Discurso sobre emoções

Fernando Pessoa disse certa vez que o poeta, de tão fingidor que é, chega a sentir a dor que descreve em seus poemas.

Mentira! E digo isto sem remorso: o poeta não precisa do papel para sentir a dor que ele está a descrever; a dor já vem dele e ele somente utiliza as palavras para que, quem as ler, também sinta o que ele está a sentir.

Ah! Não quero saber de discussões nem muito menos de argumentos...

Argumentos... O "chulo" da condição de poeta... A ferramente mais inútil para quem escreve poemas... "Por que eu deveria provar que estou a sofrer, que estou a sorrir? Por quê?" Não existem motivos para se escrever um poema e, antes que os poetas digam que é para expressar o que sentem, digo-lhes mais uma vez: mentira! E já provei isto, mas refaço minhas palavras: "o poeta não precisa de papel para sentir a dor que ele está a descrever".

E não precisa mesmo... Suas feições já denunciam o que sua alma tanto almeja contar ao mundo.

Sim, há casos em que o poeta é tão seco que nem mesmo seus olhos transpassam aquilo que está em seu interior; mas é ai que entram as palavras: são suas ferramentas para expulsar tudo aquilo que está dentro de si; para contar ao mundo como realmente se sente... 

E ai ele para... Reflete... E pensa... E ai entra o leitor: auxiliá-lo a se encontrar e, quando os dois não conseguem, vem mais outro leitor, e mais outro... Até que todos entram no consenso de que as emoções não são feitas para serem descritas e sim para serem sentidas.

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