BRANCA DE NEVE E OS SETE LADRÕES — IV SEM ALTERNATIVAS

De pele branca como a neve e lábios vermelhos como o sangue, seu nome era Branca de Neve. Mas não se engane: conhecida por todos, e odiada por sua madrasta, ela e sua grande (e quem sabe algo a mais) amiga Jana vão passar por tribulações e provar que ambas têm força para lutar e para vencer!

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IV
SEM ALTERNATIVAS

A rainha Annett estava em uma encruzilhada. Mesmo sendo orgulhosa e soberba, ela não era má — a ideia de matar sua enteada, aliás, matar a princesa do reino que a acolheu tão bem se comparava a uma doença terminal que, aos poucos, vai levando o enfermo para o outro mundo.

“Traga-me o coração de Branca de Neve”... Aquelas palavras martelavam em sua cabeça. Era algo tão simples, tão fácil e rápido — ela era a rainha, não era? Bastasse mandar o caçador oficial atrás de Branca de Neve, prometendo-lhe, claro, uma gorda recompensa pelo serviço. Ela, a rainha, tinha não só o tesouro oficial a sua disposição como o reino inteiro para isso e, mesmo que todos se voltassem contra, ela seria novamente a mulher mais linda.

Mas ela deveria? Não era muito leviano da parte dela matar uma jovem tão cheia de vida apenas para ter a juventude eterna? Annett não tinha outra alternativa senão conversar novamente com o espírito da Lua cheia.

— Rop vorpha, uem degran mor_a, ñave temenvano rapa mim! Ñave, uem ropezesde makla rop it! Eu zosipre ed it! — Clama a rainha, novamente no bosque aos arredores do castelo.

— Aob tenoy, ñami ña_ira — cumprimenta o espírito.

— Meu amor! Meu grande amor! Por favor, diga-me que há outra alternativa para que eu torne-me, novamente, a mais bela do reino! Matar Branca...

— Ou traz-me o coração daquela que é branca como a neve e de lábios rubros como o sangue ou, além de nunca mais tu seres a mais bela, tu serás ainda mais castigada pelo tempo. Ofereci-te uma alternativa e tu aceitaste, agora aguenta as consequências. — Responde o espírito, com um tom impassível na voz.

Era desesperador, mas de uma forma distorcida, reconfortante — agora Annett tinha argumentos para apaziguar seu lado bom quando a ideia perversa de assassinar a princesa martelasse sua cabeça: ou fazia ou arcava com as severas consequências.

Logo ao amanhecer do dia seguinte, ela chama um servo e ordena que ele chame por Kristian, o caçador oficial do reino.



Kristian, como fazia todos os dias, acordava junto com o cantar do galo. Homem humilde, morava em um chalezinho quase no finalzinho de Bolisa. Quando já estava pronto para ir para a floresta que existia logo depois do bosque aos arredores do castelo, alguém bate em sua porta.

— Senhor Kristian? — Pergunta o sujeito, que se vestia com uma longa túnica dourada com uma espécie de faixa roxa e verde que ia do pescoço aos pés, formando uma ponta triangular ao final. Era a roupa oficial do mensageiro real.

— Pois não? — pergunta o caçador, surpreso — aconteceu alguma coisa?

— Ah! Não, senhor. Venho em nome da rainha! Ela gostaria de vê-lo imediatamente.

Os dois entram numa carruagem que os leva ao palácio, ficando ambos quietos durante o caminho — era extremamente incomum mensageiros aparecerem na porta de meros lacaios, como era o caso daquele caçador. A rainha mandar chamá-lo pessoalmente, por mais que Kristian relutasse em não querer pensar no pior, não era uma coisa boa.

Já no palácio, o humilde caçador foi levado até a Sala do Trono, onde apenas uma rainha com uma expressão indiferente no rosto o aguardava.

— Caçador! Meu caro caçador, seja bem-vindo à Sala do Trono! — Cumprimenta Annett.

A Sala do Trono era um cômodo quase cinco ou seis vezes maior que a casa de Kristian. De dia era iluminado pela luz do sol que entrava pelas imensas janelas e vitrais e, à noite, por imensas tochas presas às paredes. O caçador já conhecia aquele lugar, mas com o ar alegre e sorridente do Baile Anual e não com aquela estranha atmosfera densa e pesada.

— A senhora queria falar comigo, minha rainha? — Indaga Kristian, genuflectindo-se em sinal de respeito.

— Sim! Tenho um serviço para você, meu caro caçador. Um serviço que lhe renderá centenas, ou melhor, milhares de milhares de moedas de ouro, prata e bronze. — Responde a rainha, olhando-o nos olhos, de cima do trono.

— Que serviço seria este? — Torna a indagar o caçador, preocupado, afinal, quando a esmola é muita, o santo desconfia.

— Ah! Não é nada de mais... só algo que ou você faz ou não faz... — Responde a rainha, com um singelo tom de ameaça na voz. — Eu quero que você traga-me o coração de Branca de Neve!

Por alguns segundos o tempo para. “Eu quero que você traga-me o coração de Branca de Neve”. A frase repetiu-se na cabeça de Kristian, em uma vã tentativa de seu cérebro tentar interpretá-la de outra maneira.

— Desculpas, minha soberana, mas... como? A senhora quer que eu mate a princesa? Mas... — Diz o caçador, perplexo.

— Ora! Vamos! Não é nada de mais. Ela é apenas uma garota mimada e inconveniente. — a rainha desce do trono e vai em direção a Kristian, encarando-o de forma sedutora e provocante — será fácil para quem já enfrentou leões e tigres com as mãos vazias.

— Senhora, desculpas, mas eu não posso! Ela é a princesa Branca de Neve!

— Lembre-se do que eu disse: a recompensa é grande, meu humilde caçador!

Annett faz alguns movimentos com as mãos e à frente dos dois surge uma grande montanha de moedas de ouro, prata e bronze, que brilhavam tanto à luz do Sol que o caçador quase não conseguia olhar diretamente para ela.

— Isto tudo será seu, basta apenas trazer-me o coração de Branca de Neve.

— Desculpas, minha soberana, mas o que aconteceria na leve hipótese de eu recusar o serviço? — Pergunta Krinstian, tentando não transparecer o medo em sua voz.

— Ah! Nada! Eu sou uma rainha bondosa, lembra-se? Você tem a alternativa de ir embora para sempre... pena sua família não ter a mesma chance...

Na hora a imagem de sua filha e sua mulher veio à cabeça do pobre caçador. Era claro o tom de ameaça da rainha, mesmo ele não entendendo muito bem o que significava “não ter a chance de ir embora”.

Para sorte de Annett seu plano estava dando certo. Caso Kristian recusasse seu pedido, ela estaria de mãos atadas — já que, como dito anteriormente, a rainha não era má e nunca teria a coragem de fazer qualquer coisa contra a família do caçador.

— Eu aceito! — Responde, enfim, Kristian, claramente desgostoso com aquilo.

— Muito bem! É assim que se faz! Eu bem sei o quão é difícil para um honrado caçador como você ter que fazer uma coisa dessas, mas não se preocupe: a recompensa faz valer todo o esforço e pesar na consciência.

Kristian despede-e e sai com a cabeça latejando.

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