BRANCA DE NEVE E OS SETE LADRÕES — III (NÃO) SABIA O QUE TODAS AS PRINCESAS SABIAM

De pele branca como a neve e lábios vermelhos como o sangue, seu nome era Branca de Neve. Mas não se engane: conhecida por todos, e odiada por sua madrasta, ela e sua grande (e quem sabe algo a mais) amiga Jana vão passar por tribulações e provar que ambas têm força para lutar e para vencer!

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III
(NÃO) SABIA O QUE TODAS AS PRINCESAS SABIAM

Apesar de, aos poucos, o reino e, em especial a capital Bolisa, estarem voltando ao normal, Branca de Neve ainda relutava em se desfazer de seu vestido preto.

Uma de suas melhores damas de companhia e também melhor amiga tentava, todos os dias, fazer com que ela vestisse-se com roupas mais alegres, vibrantes, “O reino precisa saber que a princesa é forte e que já superou a perda”, aconselhava ela, durante as visitas.

Branca de Neve tinha, ao todo, três damas de companhia: Doreen, Gabriele e Jana.

Doreen tinha vinte e poucos anos e era já dama de companhia desde os seus quatorze anos, quando seu pai, querendo um futuro melhor para a filha, pediu pessoalmente ao rei que a aceitasse dentro do palácio. Apesar de não tão bela quanto sua senhora, seus longos cabelos ruivos, pele branca e provocantes olhos negros como a noite chamavam bastante a atenção de todos. Gabriele não era menos bonita, sendo apenas um pouco acima do peso. Tinha longos cabelos castanhos e chamativos olhos verdes.

Jana, a mesma que tentava fazer com que sua senhora trocasse o vestido negro por roupas mais vibrantes, tinha vinte e quatro anos; era alta e esbelta, dona de um corpo e também de um carisma que chamavam a atenção por onde passava. Havia começado a ser dama de companhia quando fora abandonada em frente ao palácio. Para bem dizer a verdade tanto os pais quanto Branca de Neve a tratavam como da família, tendo ela mesma feita a escolha de ser apenas mais uma serva — justificava-se dizendo que não seria digna de pertencer à família real e que, algum dia, gostaria de encontrar sua mãe e pai verdadeiros.

Mesmo assim ela tinha privilégios que nenhuma das outras duas tinha, a começar por poder falar com sua senhora sem a necessidade de referências ou formalidades tal como poder perguntar qualquer detalhe da vida pessoal dela sem receber uma bronca.

Um dos episódios mais interessantes entre Branca de Neve e Jana aconteceu quando a princesa alcançara seu décimo terceiro aniversário, durante um dos “Bailes Anuais”.

Estavam as duas nos lugares reservados a elas quando um rapaz, na casa dos quatorze para os quinze anos de idade se aproximou, embasbacado com a beleza da princesinha adolescente.

— Será que nós podíamos dançar, princesa? — Pergunta ele.

O rapaz não era feio, isto é conveniente dizer. Plebeu e, provavelmente, um dos diversos vassalos que trabalhavam no campo todos os dias, sua pele era queimada pelo sol; tinha um corpo magro e olhos esverdeados — olhos estes que transmitiam alguma coisa que inquietou Branca de Neve e a levou a aceitar o convite para dançar. Eles dançaram juntos até um se cansar do outro.

— E ai? — pergunta Jana, claramente entusiasmada — como foi a dança?

— Foi boa, eu acho... — Responde Branca de Neve, com muito menos ânimo.

— Ah! Ele parecia ser tão legal.

— Parecia, mas...

— Mas...?

— Ele começou a dizer umas coisas estranhas no meu ouvido.

— Que coisas?

— Dizia que eu era a mais linda menina que ele já tinha visto e me perguntou se ele poderia me dar um beijo.

— Um beijo?! — Exclama Jana, quase saltando de sua cama. — E o que você respondeu?

— Eu disse que não, oras... — respondeu Branca de Neve, com o rosto vermelho como um pimentão. — não é apropriado para uma princesa sair beijando plebeus por ai.

Jana responde com um olhar do tipo “engane-me se for capaz”, já que ela bem sabia que ninguém a repreenderia caso alguém os visse juntos. Não demorou muito e a dama de companhia entendeu o que realmente estava acontecendo.

— Branca, você sabe beijar? — Indaga ela, de forma direta, um costume que sua senhora simplesmente detestava.

— Eu... digo... claro... lógico... sou uma princesa, não sou? É claro que sei beijar. — Responde Branca de Neve, agora com o rosto mais vermelho do que nunca.

— Prove! — Diz Jana, novamente de forma clara e direta.

— Como...?

— Prove, oras... se você já sabe beijar, então não seria difícil.

— Não há como, aqui, agora... — Torna a responder a princesa, com um claro tom de desespero comum aos tímidos.

— Tem eu! Eu já sei beijar, por isso posso te avaliar.

Não havia salvação! Branca de Neve sabia que, caso não cumprisse com o pedido de sua dama de companhia, acabaria sendo lembrada como alguém “que não sabe beijar, mesmo sendo uma princesa” pelo tempo que a memória de Jana permitisse. Sem saída, ela beija a amiga.

Foi estranho, molhado e tudo o mais reservado a um primeiro beijo. Apesar de já desconfiar que aquele era o primeiro beijo de sua senhora, Jana comprovara o fato a partir do momento em que seus lábios encostaram-se aos da amiga — estáticos e imóveis, dizendo claramente “eu não faço ideia do que estou fazendo”.

— Ah! Isto não foi um beijo, foi um “selinho”. — Esbraveja ela.

— Mas... é que... — responde Branca de Neve, tentando, inutilmente, justificar-se.

— Isto é um beijo! — Exclama Jana, puxando sua senhora para o que, segundo ela, seria um “beijo de fato”; um beijo que se compara ao que um galã dá na mocinha logo após salvá-la, nos filmes ou mesmo novelas.

Ao terminar Branca de Neve não tinha palavras para descrever o que havia sentido durante aquele ato repentino. Com Jana também.

— Ok! Eu não “sabia” beijar... satisfeita? — Indaga a princesa, com um ar meio desgostosa, meio “obrigada por fazer isso”.

— Muito! — Responde Jana, feliz em sua ainda inocência por ter introduzida a amiga a um novo mundo.

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