BRANCA DE NEVE E OS SETE LADRÕES — V "O QUE EU FIZ?"

De pele branca como a neve e lábios vermelhos como o sangue, seu nome era Branca de Neve. Mas não se engane: conhecida por todos, e odiada por sua madrasta, ela e sua grande (e quem sabe algo a mais) amiga Jana vão passar por tribulações e provar que ambas têm força para lutar e para vencer!

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V
“O QUE EU FIZ?”

Demorou, mas finalmente Jana conseguiu com que sua senhora e melhor amiga mudasse de hábito: no lugar do vestido preto, agora um vestidinho longo, mais leve, sem mangas e na cor branca, especialmente escolhido para ir ao bosque aos arredores do palácio — em um ritual de visitas vespertinas que haviam tornado-se quotidianas desde que seu pai havia falecido. Com ela, além de Jana, também estavam Doreen e Gabriele.

— Está uma linda tarde, não? — Pergunta Doreen, apoiando o guarda-sol que trazia consigo em seu ombro direito.

— Sim... — Responde Branca de Neve, completamente desanimada.

— Oras! Anime-se princesa! O piquenique será bom! — Responde Gabriele, armando uma toalha de mesa sobre o chão. — Hei! É a princesa quem primeiro deve comer!

Gabriele repreende Jana, que saboreava um sanduíche que retirara da cesta que carregava.

— Vamos nos sentar? — Indaga novamente Doreen, fazendo com que as duas desistissem da disputa para ver se Jana terminava seu lanche ou se Gabriele conseguia fazê-la devolver o mesmo à cesta de piquenique.

Não muito longe do quarteto um homem em dúvida e completamente fora de si — principalmente após diversas baforadas de “ahen”, uma espécie de droga alucinógena — as observava. Suas ordens eram claras: “pegar o coração da pobre princesa e levá-lo à rainha”, mas e as outras garotas? Será que seria necessário matá-las também?

Como havia dito Annett, matar e, em seguida, levar o coração de Branca de Neve não seria nada difícil. Por ser um reino pacífico, ninguém nunca se quer pensara em prover guardas para a segurança dos soberanos, quiçá à princesa. Mas as damas de companhia não estavam em seus planos — se assassinar Branca de Neve, que era uma simples e inocente jovem, amada por todos, já estava sendo uma difícil decisão, levar ao criador mais três almas que em nada tinham a ver com a história era uma verdadeira tortura psicológica para um espírito tão puro e nobre quanto era o do caçador.

Porém, ele sabia que teria que ser feito, ele querendo ou não... Era a lei do mais forte, uma lei que Kristian, um profissional experiente, conhecia muito bem: ou era a princesa e suas damas de companhia ou sua esposa e sua filha.

Branca de Neve, Jana, Doreen e Gabriele não desconfiavam de nada e continuavam a aproveitar seu piquenique — fazia uma linda tarde de verão de céu azul e poucas nuvens. A princesa, graças a sua principal dama de companhia, estava mais animada. Em principio recusara-se a comer os sanduíches que haviam sido feitos por Gabriele, mas após certa insistência, e implicância de Jana, ela aceitara um que estava bem ao fundo da cesta de piquenique. Quando não tinham mais nada para comer, as quatro deitam-se no chão, olhando as nuvens que passavam sobre elas.

— Aquela ali se parece com um coelho. — Diz Gabriele, apontando para uma nuvem que passava bem acima de ela.

— Não... está mais para um pato. — Discorda Jana.

— Por favor, vocês duas... é apenas algodão... — Diz Doreen, entrando na conversa.

— Apenas algodão? — Indagam, em uníssono, Jana e Gabriele, impressionados com aquela opinião.

— Princesa, não estou certa? — Torna a perguntar Doreen, desta vez diretamente à Branca de Neve.

— Eu não sei... o professor Uwe sempre dizia que as nuvens eram feitas de pequenas gotinhas de água e não de algodão... — Responde Branca de Neve, em um tom sereno, deixando as três damas de companhia em completo silêncio, refletindo a respeito do que ela havia dito.

Quase tão rápido quanto o bote de uma cobra venenosa, Kristian surge de seu esconderijo e ataca Doreen, cortando seu pescoço com uma faca. Em seguida volta-se para Gabriele, que mal entende o que aconteceu consigo quando cai morta.

Para a sorte de Branca de Neve, os instintos de sua melhor amiga eram tão ágeis quanto o algoz que as atacava: sem pensar duas vezes, ao ver Doreen cair morta e, em seguida Gabriele, a dama de companhia levanta-se rapidamente, puxando sua senhora pelo braço, quase destroncando o membro. A princesa, igualmente ágil em interpretar as coisas, não parou para perguntar o porquê daquele gesto tão repentino e logo se encontrava atrás de Jana, que corria um pouco à sua frente, indo mais ao fundo do bosque.

Furioso por causa da própria incompetência, o caçador corre atrás das duas, que decidem separar-se.

Branca de Neve corre desesperada por um caminho sem rumo. Ela conhecia aquele bosque, mas a situação fizera com que ela, ao invés de seguir de volta para o castelo, embrenhara-se mata à dentro, completamente perdida. Após alguns minutos a jovem princesa estava exausta.

No rastro dela, não muito longe, o caçador a procurava, paciente. Ele já havia caçado “presas fujonas” antes e sabia que a melhor opção, nesses casos, era a paciência.

Graças à sua experiência, ele encontra a jovem princesa desmaiada sobre uma rocha com seu vestido branco encharcado de suor.

“É a coisa mais linda que eu já vi” pensa Kristian, com o efeito do ahen já se tornando mais ameno. Naquela situação, Branca de Neve assemelhava-se muito com a filha do caçador enquanto dormia, o que o fez parar para refletir um pouco tudo o que estava acontecendo. “Meu Deus, o que eu fiz?”

Kristian dá pequenos tapinhas em seu rosto para que ela despertasse. “Chii”, faz ele, pedindo para que ela não fizesse barulho. “Corra o mais rápido que puder rumo à floresta e não volte mais ao castelo! Sua madrasta quer o seu coração, pagando um altíssimo preço por ele” conta Kristian. A jovem princesa, mais uma vez grata por sua capacidade de entender e interpretar as coisas rapidamente, põe-se a correr novamente.

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