O Álcool

Apesar de já ter certo tempo, ainda consigo lembrar algumas aulas de “Psicologia do Desenvolvimento”, disciplina em que um psicólogo ou mesmo um futuro docente aprende a respeito da formação da psique de uma pessoa desde o seu nascimento até a fase adulta. Em uma dessas aulas, a que mais se fixou em minha memória, meu professor explicou à minha turma os efeitos que o álcool faz ao corpo humano.

Com a sala à meia luz por causa do data-show, ele se dirigiu à porta e a abriu, dizendo: “quando estamos sóbrios, existe um ‘anjo da guarda’ dentro de nós que nos impede de fazer certas coisas, como, por exemplo, sair dançando que nem louco ‘pagando mico’ durante uma festa; quando bebemos, derrubamos esse anjo, e é ai que as coisas se complicam, pois sem ele, fazemos coisas que geralmente não faríamos”.

Apesar de existir “N” outros efeitos que essa substância causa ao organismo, isto de “derrubar o nosso bom senso — o ‘anjo da guarda que nos impede de fazer certas coisas’” — faz com que nos sintamos como “super-heróis” ou mesmo deuses, imortais — o que explica, em partes, o porquê de, mesmo com tantos avisos, ainda existirem diversas pessoas que insistem em beber e dirigir, sempre com a desculpa de que “eu bebi só um pouco e nada vai me acontecer”.

O interessante é que “não há festa se não tiver bebida”, ou seja, “se não derrubarmos aquele que nos faz mediar as consequências das coisas, não conseguiremos nos divertir”. É claro que todos têm o direito de, após um dia cansativo de trabalho, chegar em casa e tomar uma “cervejinha gelada”; o problema é quando essa “cervejinha” se transforma em dez ou vinte latas ou mesmo garrafas — o que não é raro.

O álcool, tal como qualquer outra droga, possuí seus perigos e, por ser legalizada, não é tratada como tal — o cigarro, que no Brasil teve a publicidade proibida, possuí muito mais foco governamental que a cerveja. Ensina-se aos jovens que o tabaco não é “legal”, mais se deixa que as grandes cervejarias os estimulem a beber até não aguentarem mais e... basta assistir ao jornal para ver as consequências, principalmente no trânsito.

Defendo, aqui, não a proibição das bebidas alcoólicas, mas uma atenção maior sobre elas, seja do governo, seja da sociedade. Mostrar que é possível sim sair e se divertir sem precisar “encher a cara” — o que eu, confesso, entendo que será tão difícil quanto substituir o futebol no Brasil por outro esporte. Porém, se medidas não começarem a serem tomadas desde já, mais e mais gente morrerá não somente no trânsito, mas enquanto estavam justamente se divertindo — evitar uma briga é muito mais fácil quando conseguimos discernir nossas ações do que quando agimos somente por instinto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário