Ágapi e Elpizo


Sinopse: Dois anjos, Ágapi e Elpizo tem a missão de ajudar um rapaz que caminha desoladamente pelo Bosque do Desespero, mas, mais que uma simples missão de ajuda, eles também terão que ensiná-lo o que realmente significam na vida dele.

Um anjo alto e esbelto com cabelos castanhos ondulados até os ombros, pele branca e olhos cor de mel caminha pela Terra junto a outro anjo — este um pouco mais baixo, porém, nem por isso menos imponente, pele bronzeada e olhos negros como jabuticaba. O primeiro chama-se Ágapi e o segundo Elpizo.

A  Terra continuava como sempre: amantes se amavam, famílias se encontravam e se reencontravam e pais ensinavam aos filhos o verdadeiro significado de amarem uns aos outros assim como pessoas se odiavam e se matavam, crianças eram vendidas e estupradas e preconceituosos excluíam seus irmãos por serem diferentes.

Apesar de todas aquelas mazelas e da tremenda vontade de levantarem suas mãos ao alto e expulsarem todo os males que aquele pequeno planetinha azul possuía, a missão deles era outra — uma bem mais insignificante, diga-se de passagem. Eles procuravam por um rapaz perdido no Bosque do Desespero, também conhecido como Morada da Solidão, um parque entre o mundo terreno e a dimensão dos desiludidos.

— Lá vai ele — anuncia Ágapi, apontando para um rapaz de coluna curvada, cabelos negros e olhos esverdeados.

O rapaz seguia em frente embaixo de um céu cinza e rodeado de esquinas que, vez ou outra, ele se aventurava a entrar, mas que sempre levavam a becos sem saída.

— Vamos! — Ordena Elpizo.

Os dois assumem suas formas humanas — que nada mais eram que eles mesmos sem as asas e o brilho celestial — e param o rapaz, já pronto para entrar em mais um beco sem saída.

— Quem são vocês? — Pergunta ele, assustado em ver aquelas duas pessoas com aparência tão boa em um local tão ruim.

— Dois amigos enviados para te ajudar. — Responde Elpizo.

— E o que podem fazer por mim? Ensinar-me-ão os atalhos e os caminhos por entre este mar de vielas que não levam a lugar algum?

— Não! Isto ninguém pode te ensinar ou mostrar. Cabe somente a ti descobrir onde deves entrar ou sair. — Discursa Ágapi, olhando firme para o rapaz.

— Mas, então, como fico eu? Continuo seguindo em frente? Paro e desisto? Vocês disseram que vieram me ajudar, mas o que fazem, de fato, é apenas piorarem as coisas.

— Nunca dizemos que facilitaríamos as coisas para ti, apenas que o ajudaríamos. — Responde Ágapi.

— Expliquem-se, não consigo entender.  — indaga o rapaz, confuso e desanimado.

— Tu sofres por um sentimento que não é terreno, mas celestial. Um sentimento que possuí uma essência bela, porém, dura e forte. — Responde Ágapi.

— Esse sentimento é tão forte que a humanidade, em sua busca por poder, transformou-o em algo maligno; algo ruim. — Complementa Elpizo.

— Falar assim é fácil! Pensam que me enganam assumindo a mísera forma de um ser humano, mas não passam de dois anjos que nunca sofreram ou sentiram dor. — Cospe o rapaz, irritado. — Estou sozinho e não é por falta de tentativas. Estou sozinho porque não mereço ninguém e ninguém me merece, afinal, todos sabem os caminhos que devem percorrer por este bosque enquanto eu apenas sigo em frente, errando e acertando.

— Cale-se humano! — Esbraveja Ágapi, reassumindo sua forma celestial. — Meça tuas palavras! Eu sou Ágapi, espírito do sentimento que tanto te atormenta, aliás, espírito do real sentimento que vocês, humanos, chamam de amor e não isto que tu estás a sentir. Perguntas se nós, anjos, não sofremos? Pois então olhe novamente. Olhe para nossas almas! Sofremos todos os dias com os vossos pecados e vossas faltas. Ensinamos tudo que era bom e vocês simplesmente desvirtuaram tudo em desgraça e sofrimento.

— Mesmo eu ainda estando presente, tua aparência é de alguém que nunca me conheceu; nunca soube quem realmente sou eu. Eu sou Elpizo, o espírito da verdadeira esperança. Aquele que caminha lado a lado com Ágapi e dá sentido à vida. Sem mim, caminhar por este bosque não significa nada. — Complementa o outro anjo, também reassumindo sua forma angelical.

O rapaz fica perplexo, não pela dureza daquelas palavras, mas pelo significado delas. O fato era que a desde que havia encontrado Ágapi pela primeira vez no olhar de uma colega de classe até aquele momento, todo Elpizo o fizera sofrer, pois era justamente ele que o levava às diversas esquinas sem saída.

— Pois então que você se retirem! Desde que os conheci só tenho entrado em esquinas sem saída! — Reclama o rapaz com um tom áspero.

— Independente de tua vontade e por mais que nos maltrate, humano, nós não o abandonaremos. Só lembras das coisas más porque fostes ensinado assim, mas quando entrares em uma esquina que te leve ao que tanto procuras, ai sim tu irás nos agradecer. — Replica Elpizo, olhando para o rapaz, nos olhos, como se estivesse falando diretamente com a alma dele.

Depois daquilo todos ficaram calados e se olhando por um tempo até o rapaz virar as costas e continuar a seguir em frente, no mesmo ciclo de entrar e sair das diversas esquinas sem saída.

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