BRANCA DE NEVE E OS SETE LADRÕES — II A MAIS BELA ENTRE TODAS

De pele branca como a neve e lábios vermelhos como o sangue, seu nome era Branca de Neve. Mas não se engane: conhecida por todos, e odiada por sua madrasta, ela e sua grande (e quem sabe algo a mais) amiga Jana vão passar por tribulações e provar que ambas têm força para lutar e para vencer!

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II
A MAIS BELA ENTRE TODAS

E mais três dias tristes abateram-se sobre Bolisa e o restante do reino. Súditos, plebeus e quem mais havia conhecido o rei chorava rios de lágrimas — durante o enterro, mais pomposo que o da rainha e quase ultrapassando a fronteira entre um espetáculo imenso e uma simples cerimônia de adeus, nem mesmo o sacerdote responsável pela missa de corpo presente conseguia se conter. Branca de Neve, como não poderia deixar de ser, era uma das pessoas que mais sofriam: apegada ao pai desde criança, não havia um só dia em que ele não visitasse seu quarto à noite para ou contar-lhe uma boa história ou simplesmente dar-lhe um beijo de boa noite. Vê-lo morto em um caixão e prestes a partir em uma viagem sem volta fez com que a agora garota de vinte e um anos entrasse em um estado de completo silêncio; uma espécie de fuga para um mundo só dela, em que suas duas décadas de vida resumissem-se apenas nos diversos bons momentos que ela havia tido com seu pai.

Apesar de ser uma enfermidade, a tristeza e o silêncio deram a ela um surpreendente ar de mistério, contemplando ainda mais a sua já reconhecida beleza. Seu longo vestido preto — adotado logo após a partida do rei — com camadas de renda e contrastando com sua pele branca e seus lábios vermelhos a deixaram com um peculiar encanto gótico, que a fez entrar de vez para o primeiro lugar no ranking das mulheres mais belas.

Em Annett, que também havia resolvido adotar uma postura de silêncio, começara a desenvolver-se um estranho ciúme sobre a jovem beleza da enteada — sentadas lado a lado, ninguém diria que uma era quase vinte e três anos mais velha que a outra, porém, uma estranha paranoia que, pouco a pouco ganhava vida dentro da soberana, fazia-a pensar que os súditos diziam, por trás de suas costas, o quanto a princesa havia ficado ainda mais bonita, mesmo durante o luto, enquanto ela, a rainha, havia se transformado em uma velha feia.

“Eu sou a rainha e, dentre todas do reino, eu sou a mais bela!” dizia a madrasta de Branca de Neve para si, na tentativa de afastar os pensamentos de que os anos finalmente haviam chegado para ela e que, a partir daquele momento, ela não era mais tão jovem. “Tenho que fazer alguma coisa!”

Como sempre fazia durante as luas cheias, ela vai ao bosque aos arredores do palácio para fazer os rituais que tanto despertavam o medo entre os servos. Desta vez, porém, aquela cerimônia tinha ainda mais significado: a rainha queria confirmar para si mesma que ela ainda era jovem e também a mais bela; mais bela até que Branca de Neve.

— Toripies ad awl a_xey, ñave syam amu zev! ñave me arlisiaw! Ut ueq se o biosa ad tenoy y teman_a sad syam dasnaxopay_a saspoes, Eu, rago_a va_u_vi, mokla rop it; Eu sosipre ed it! Ñave! — Discursa Annett, voltada para a Lua.

Não demora muito e um pequeno ponto brilhante, como uma estrela, desce em direção à rainha, transformando-se em um rapaz de pele branca, olhos azuis e sedosos cabelos loiros ao tocar o chão.

— Aob tenoy, ñami ña_ira — cumprimenta ele, que se vestia com uma túnica branca, de seda, amarrada pela cintura por um cordão branco, parecendo-se estranhamente com um anjo. — Boa noite, minha rainha.

— Lua... lindo como sempre... wem syam lobe teman_a. — responde ela, beijando o rapaz em seguida.

— Em que posso ser-lhe útil, minha soberana?

— Meu lindo amante... amante meu... diga, dentre todas as mulheres do reino, quem é a mais bela?

Annett, nesta hora, já estava ajoelhada aos pés do espírito da Lua cheia, abraçada às suas pernas.

— Minha soberana, para mim és a mais bela, porém, meus olhos são os de quem ama e nada mais vê senão a felicidade estampada nos olhos da pessoa amada; aos simples mortais, aqueles que nada mais percebem além da insensatez, tu és a segunda mais bela dentre todas.

Ao ouvir aquilo, a rainha levanta-se com um salto. Seu coração dispara e olhando o espírito da Lua cheia nos olhos, faz sua última e mais temida pergunta: — Então, quem é aquela que está acima de mim; aquela que ousa ser mais bela que eu?

— Aquela que se põe acima de tua magnificência é chamada por Branca de Neve, a mais bela deste reino.

— Branca de Neve... a rainha repetiu mentalmente para si — ...a mais bela do reino.

Aquela resposta foi igual a tomar banho de água fria em um dia frio, congelando-a por alguns segundos.

— Amaldiçoado é o dia em que nasceste, Branca de Neve! Amaldiçoado é o dia em que seus pais puseram-na neste mundo! E agora cairás perante tua própria beleza e pedirás clemência quando eu, a única soberana e também a mesma bela, colocar-te às portas do inferno! — Profetisa ela.

Uma forte rajada de vento atravessa o jardim e chega ao palácio, fazendo as janelas baterem com força, assustando os servos e os nobres ainda acordados.

— Há um jeito, contudo, minha rainha, de ainda tu seres a mais bela. — Surpreende o espírito, trazendo a rainha de volta à realidade.

— Então, diga-me como, meu querido amante! Como eu posso voltar a ser a mais bela dentre todas?

— Traga-me o coração de Branca de Neve.

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