Ninguém

Certo dia, um sujeito chamado Ninguém resolve mudar de nome. Vai ao cartório e escuta de um homem chamado Tabelião que, infelizmente, era impossível que ele mudasse de nome.

Desconsolado, Ninguém volta para a casa. E agora, o que ele faria? Seu maior sonho era mudar seu nome para Alguém. Foi então que uma moça, chamada Esperança e que morava ao lado dele, o consola dizendo para que ele não desistisse e que continuasse a tentar a mudar de nome. Ninguém, mais uma vez, sentiu-se motivado e voltou ao cartório.

— Não saio daqui até que meu nome mude para Alguém, disse ele. O Tabelião apenas o observa.

— Mas eu já não disse ao senhor que é impossível mudar seu nome? Perguntou o homem.

— Por isso mesmo, dê um jeito! Não saio daqui até que mude meu nome!

E assim foi... Ninguém se senta em um banco próximo à bancada e por lá fica até o horário de saída dos funcionários, irredutível e decidido a não ir embora.

Fez-se a confusão...  Todos queriam voltar para suas casas, mas não podiam deixar o homem lá dentro — sabe-se lá Deus o que ele faria sozinho, ali, durante à noite.

— Escute aqui, senhor! Temos que fechar o cartório e, caso tu não saias, terei que chamar a polícia. — Disse o Tabelião, com toda a pompa que os seus 1,69 de altura lhe permitia.

— Então chame! — Respondeu Ninguém.

E assim se sucedeu: logo uma viatura da polícia chega ao cartório e dois policiais vão falar com Ninguém.

— Senhor, por favor! Vá embora! Todos querem rever suas famílias, seus amigos... Descansar, mas não podem por causa do senhor. — Disse um dos guardas.

— Já disse que não saio daqui enquanto meu nome não for Alguém.

— Mas, senhor...

— Escute aqui, se guarda, eu sou sempre o responsável por tudo: deixe que Ninguém faz isso; que Ninguém faz aquilo... É um saco e, ao final, sempre Alguém se prontifica a ajudar e acaba levando a fama. É por isso que eu quero mudar meu nome.

— Escute, senhor, eu te entendo, mas infelizmente não há nada o que possa ser feito! — Responde o guarda. — Por favor, Todos quer ir embora...

— Está vendo? É sempre assim também: quando Alguém faz alguma coisa, a culpa é de quem...? De Ninguém, claro! Sou eu sempre o culpado por tudo!

— Olha, senhor — disse o outro guarda — eu também te entendo, mas caso você não coopere conosco, teremos que levá-lo à delegacia.

E assim aconteceu: os dois policiais até tentaram argumentar com Ninguém dizendo que tudo o que ele estava passando eram "coisas da vida"; de que tudo um dia iria melhorar que um dia ele seria lembrando, mas não teve conversa. Ao final Ninguém acabou preso do mesmo jeito!

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