CAPÍTULO ANTERIOR
II
Às oito horas em ponto, Rumpelstiltskin, ou simplesmente Rump, surge no escritório de Saphira, fazendo-a dar um pulo de sua cadeira.
— Bom dia senhor Rump. Eu não quero ser indelicada, mas da próxima vez que vier ao meu escritório poderia, antes, se anunciar ao Imad? — Pergunta ela, recompondo-se. O duende responde apenas com um olhar feio. — Por favor, sente-se.
— Então, doutora, já pensou em alguma coisa? — Pergunta ele, nitidamente se esforçando para não parecer insolente.
— Ontem à noite meu assistente e eu ficamos até tarde pensando a respeito de seu caso. O senhor havia me dito que a rainha Carol, em um primeiro momento, tinha aceitado o acordo, mas depois implorou para que ele não fosse cumprido, certo? — Indaga a bacharela, olhando firme nos olhos de Rump.
— Sim — responde ele. Ouça: eu posso ter essa carranca e até ser meio insolente, mas eu não sou mal, apenas justo! Eu não a forcei a nada, apenas ofereci um serviço, simples.
Apesar de ser a primeira vez que Saphira via pessoalmente um duende, ver aquela criaturinha tão bizarra se justificar a fez refletir sobre o que ele estava dizendo: de certa forma, conforme ela pensou, ele não estava errado; ao menos segundo o que ele diz a rainha não foi forçada a nada e foi ela, para início de conversa, quem aceitou trocar seu filho por palha transformada em ouro.
— Senhor Rump, o que pesa aqui, neste caso, é o preço. Tenho certeza de que nenhum juiz irá forçar o cumprimento do acordo de vocês, principalmente em se tratando da rainha Carol e do príncipe Matthys.
— Oras! Eu sabia! Advogados! — Esbraveja o homenzinho, levantando-se de sua cadeira e já se preparando para ir embora.
— Espere! — Pede Saphira. — O senhor também tinha dito que o pai da rainha Carol ludibriou o rei Anthony para que ela se casasse com ele, certo?
— Sim. — Responde Rump, tornando a se sentar. — Aonde a senhora quer chegar?
— Vamos propor um acordo, simples!
— Acordo?
— Sim! Há alguma coisa que o senhor gostaria mais que o filho dela?
— Infelizmente não.
«««
Em um grande quarto com uma grande cama de casal e um berço com adornos de ouro e prata uma mulher com longos cabelos negros, pele branca e olhos esverdeados dava de mamar a uma criança miúda, também de pele branca e com ralos cabelos loiros na cabeça.
— Senhora Carol! — Chama um homem franzino, de cabelos castanhos e com um chapéu com uma pena de pavão, embaixo da soleira da porta.
— Pois não? — Pergunta ela.
— Há um oficial que gostaria de vê-la. — Responde o homem franzino.
— Pois diga para que ele adentre. — Pede ela, colocando a criança no berço.
O oficial em questão era um homem encorpado com um chapéu de coco preto e terno marrom.
— Por favor, sente-se. — Oferece Carol, apontando uma poltrona à sua frente.
— Creio que não será necessário, senhora. — Responde o sujeito. — Vim aqui para lhe trazer uma intimação.
— Uma... O quê? — Indaga ela, assustada.
—Uma intimação. Infelizmente o conteúdo dela é secreto e somente o destinatário pode lê-la. Por favor... — Responde ele, entregando-a um envelope.
Sem esperar, ela rasga o envelope e começa a ler a carta.
Caríssima senhora Carol Ritzema
O senhor Rumpelstiltskin, por meio de sua advogada, a senhorita Dra. Saphira Roumbots, a intima a comparecer — acompanhada ou não de um representante — ao escritório dela às oito horas e trinta minutos do próximo dia de Frige.
Lembrando, desde já, que a sua presença é imprescindível conforme o artigo 8, parágrafo 1 da Cláusula Especial de Acordos.
Dra. Saphira Roumbots
Registro 12.21.3.1.19 / 18
— Por favor, assine aqui. — Diz o oficial, tirando Carol de seu espanto ao ler o nome Rumpelstiltskin.
— Ah! Sim! — Responde ela.
O oficial se retira e ela se senta novamente.
— Algum problema, senhora? — Pergunta o homem franzino e de cabelos castanhos.
— Dennis, por favor, chame o Dr. Thomas e diga para vir o mais rápido o possível. — Responde ela, olhando para baixo.
— Pois não, senhora.
Após algumas horas, em uma sala sem janelas e decorada com diversos brasões e ornamentos de guerra assim como com uma grande mesa, encontravam-se Carol e o Dr. Thomas.
— Por favor, sem cerimônias. — Diz ela, antes que ele a cumprimentasse.
— Pois então... Qual é o motivo de ter me chamado aqui com tanta urgência? — Pergunta o Dr. Thomas, um homem de média estatura na casa dos trinta e poucos anos de idade e com um bigode no rosto que o envelhecia mais uns dez ou quinze anos.
— Isto. — Responde ela, entregando-lhe a intimação.
— Certo. A senhora conhece esse sujeito de nome engraçado?
— Sim. Ele é um antigo...
— Um antigo...?
— ...Desafeto, por assim dizer. — Responde Carol, com um leve sinal de tensão em sua voz.
— E eu poderia saber o que os levou a brigarem?
Era tudo o que Carol não queria: compartilhar como conseguira se tornar rainha — apenas seu pai, ela e, claro, Rumpelstiltskin, sabiam de toda a história.
Após contar tudo a Thomas, um silêncio tenso recai sobre o cômodo.
— Confesso que isto é extraordinário. Já tinha ouvido falar da existência de duendes, mas nunca achei que eles realmente existissem.
— Pois existem e eu acabei sendo ajudada por um deles.
— Mas, pelo o que a senhora me contou, na realidade não se tratou de ajuda, mas sim de um acordo.
— Por favor — responde ela, agora claramente tensa —, não me faça repetir tudo novamente! Meu pai inventou que eu podia tecer fios de palha em fios de ouro e eu quase tive a cabeça decapitada por causa disso. Se eu não tivesse aceitado esse acordo maluco, não estaria aqui, agora.
— Bom, se eles estão nos chamando para conversar é porque a advogada dele sabe que nenhum juiz deste reino a forçaria a entregar o príncipe Matthys. — Diz Thomas.
— Mas aquele desgraçado do Rumpelstiltskin sabe muito bem que ninguém sabe que tudo não passou de uma farsa.
— Sim! Mas agora tu já és rainha. Nada a pode tirar do trono.
— Será? Meu povo me vê de um jeito, um jeito que lutei bravamente para me tornar. Seria muito frustrante para todos saber que a rainha que eles tanto amam é, na verdade, uma mentira.
— Céus... Isso será complicado. — Finaliza Thomas, olhando firme nos olhos de Carol.
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Às oito horas em ponto, Rumpelstiltskin, ou simplesmente Rump, surge no escritório de Saphira, fazendo-a dar um pulo de sua cadeira.
— Bom dia senhor Rump. Eu não quero ser indelicada, mas da próxima vez que vier ao meu escritório poderia, antes, se anunciar ao Imad? — Pergunta ela, recompondo-se. O duende responde apenas com um olhar feio. — Por favor, sente-se.
— Então, doutora, já pensou em alguma coisa? — Pergunta ele, nitidamente se esforçando para não parecer insolente.
— Ontem à noite meu assistente e eu ficamos até tarde pensando a respeito de seu caso. O senhor havia me dito que a rainha Carol, em um primeiro momento, tinha aceitado o acordo, mas depois implorou para que ele não fosse cumprido, certo? — Indaga a bacharela, olhando firme nos olhos de Rump.
— Sim — responde ele. Ouça: eu posso ter essa carranca e até ser meio insolente, mas eu não sou mal, apenas justo! Eu não a forcei a nada, apenas ofereci um serviço, simples.
Apesar de ser a primeira vez que Saphira via pessoalmente um duende, ver aquela criaturinha tão bizarra se justificar a fez refletir sobre o que ele estava dizendo: de certa forma, conforme ela pensou, ele não estava errado; ao menos segundo o que ele diz a rainha não foi forçada a nada e foi ela, para início de conversa, quem aceitou trocar seu filho por palha transformada em ouro.
— Senhor Rump, o que pesa aqui, neste caso, é o preço. Tenho certeza de que nenhum juiz irá forçar o cumprimento do acordo de vocês, principalmente em se tratando da rainha Carol e do príncipe Matthys.
— Oras! Eu sabia! Advogados! — Esbraveja o homenzinho, levantando-se de sua cadeira e já se preparando para ir embora.
— Espere! — Pede Saphira. — O senhor também tinha dito que o pai da rainha Carol ludibriou o rei Anthony para que ela se casasse com ele, certo?
— Sim. — Responde Rump, tornando a se sentar. — Aonde a senhora quer chegar?
— Vamos propor um acordo, simples!
— Acordo?
— Sim! Há alguma coisa que o senhor gostaria mais que o filho dela?
— Infelizmente não.
Em um grande quarto com uma grande cama de casal e um berço com adornos de ouro e prata uma mulher com longos cabelos negros, pele branca e olhos esverdeados dava de mamar a uma criança miúda, também de pele branca e com ralos cabelos loiros na cabeça.
— Senhora Carol! — Chama um homem franzino, de cabelos castanhos e com um chapéu com uma pena de pavão, embaixo da soleira da porta.
— Pois não? — Pergunta ela.
— Há um oficial que gostaria de vê-la. — Responde o homem franzino.
— Pois diga para que ele adentre. — Pede ela, colocando a criança no berço.
O oficial em questão era um homem encorpado com um chapéu de coco preto e terno marrom.
— Por favor, sente-se. — Oferece Carol, apontando uma poltrona à sua frente.
— Creio que não será necessário, senhora. — Responde o sujeito. — Vim aqui para lhe trazer uma intimação.
— Uma... O quê? — Indaga ela, assustada.
—Uma intimação. Infelizmente o conteúdo dela é secreto e somente o destinatário pode lê-la. Por favor... — Responde ele, entregando-a um envelope.
Sem esperar, ela rasga o envelope e começa a ler a carta.
Caríssima senhora Carol Ritzema
O senhor Rumpelstiltskin, por meio de sua advogada, a senhorita Dra. Saphira Roumbots, a intima a comparecer — acompanhada ou não de um representante — ao escritório dela às oito horas e trinta minutos do próximo dia de Frige.
Lembrando, desde já, que a sua presença é imprescindível conforme o artigo 8, parágrafo 1 da Cláusula Especial de Acordos.
Dra. Saphira Roumbots
Registro 12.21.3.1.19 / 18
— Por favor, assine aqui. — Diz o oficial, tirando Carol de seu espanto ao ler o nome Rumpelstiltskin.
— Ah! Sim! — Responde ela.
O oficial se retira e ela se senta novamente.
— Algum problema, senhora? — Pergunta o homem franzino e de cabelos castanhos.
— Dennis, por favor, chame o Dr. Thomas e diga para vir o mais rápido o possível. — Responde ela, olhando para baixo.
— Pois não, senhora.
Após algumas horas, em uma sala sem janelas e decorada com diversos brasões e ornamentos de guerra assim como com uma grande mesa, encontravam-se Carol e o Dr. Thomas.
— Por favor, sem cerimônias. — Diz ela, antes que ele a cumprimentasse.
— Pois então... Qual é o motivo de ter me chamado aqui com tanta urgência? — Pergunta o Dr. Thomas, um homem de média estatura na casa dos trinta e poucos anos de idade e com um bigode no rosto que o envelhecia mais uns dez ou quinze anos.
— Isto. — Responde ela, entregando-lhe a intimação.
— Certo. A senhora conhece esse sujeito de nome engraçado?
— Sim. Ele é um antigo...
— Um antigo...?
— ...Desafeto, por assim dizer. — Responde Carol, com um leve sinal de tensão em sua voz.
— E eu poderia saber o que os levou a brigarem?
Era tudo o que Carol não queria: compartilhar como conseguira se tornar rainha — apenas seu pai, ela e, claro, Rumpelstiltskin, sabiam de toda a história.
Após contar tudo a Thomas, um silêncio tenso recai sobre o cômodo.
— Confesso que isto é extraordinário. Já tinha ouvido falar da existência de duendes, mas nunca achei que eles realmente existissem.
— Pois existem e eu acabei sendo ajudada por um deles.
— Mas, pelo o que a senhora me contou, na realidade não se tratou de ajuda, mas sim de um acordo.
— Por favor — responde ela, agora claramente tensa —, não me faça repetir tudo novamente! Meu pai inventou que eu podia tecer fios de palha em fios de ouro e eu quase tive a cabeça decapitada por causa disso. Se eu não tivesse aceitado esse acordo maluco, não estaria aqui, agora.
— Bom, se eles estão nos chamando para conversar é porque a advogada dele sabe que nenhum juiz deste reino a forçaria a entregar o príncipe Matthys. — Diz Thomas.
— Mas aquele desgraçado do Rumpelstiltskin sabe muito bem que ninguém sabe que tudo não passou de uma farsa.
— Sim! Mas agora tu já és rainha. Nada a pode tirar do trono.
— Será? Meu povo me vê de um jeito, um jeito que lutei bravamente para me tornar. Seria muito frustrante para todos saber que a rainha que eles tanto amam é, na verdade, uma mentira.
— Céus... Isso será complicado. — Finaliza Thomas, olhando firme nos olhos de Carol.
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