Sumi, eu sei! E já peço desculpas - estava sem ideias, fora que havia começado a redigir outro livro (e descobrir que após quinze folhas o disco rígido queimaria). Contudo, tentarei ser mais assíduo aqui - isso é uma promessa. Então, sem demorar mais...
***
Quem disse que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço, com certeza, nunca andou de ônibus em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Em certos horários ou você dá um jeito de caber no mesmo lugar que várias pessoas ou então compra um carro - simples assim!
Como só tenho dinheiro para pagar, todos os dias, os R$2,85 de passagem, a única alternativa que me sobra é ter que arranjar um espaço - eu e mais outras centenas de pessoas.
Apesar de tudo isso, andar de "transporte coletivo" - como chamam os jornais daqui -, todos os dias, têm seus contras e, claro, os seus prós também; um deles é ficar amigo dos motoristas e, claro, conhecer pessoas novas.
Um exemplo, comigo, foi Isabela, que conheci várias semanas depois de começar a pegar, diariamente, às 07h00min, o 081. Lembro-me que estava frio - para os padrões campo-grandenses, é claro - e por milagre existiam bancos vazios. Ela senta-se ao meu lado.
- Bom dia! - Cumprimenta-me ela.
- Bom dia! - Respondo eu.
- Nossa! Que frio!
- Então...
- ...Nossa! Mas como as pessoas gostam de fechar as janelas quando está frio! Será que elas não sabem a quantidade de vírus circulando por aqui?
- Sinceramente? Acho que não.
Certo! Essa conversa não foi lá uma das mais empolgantes, mas no dia seguinte - agora novamente com a luta por lugar - torno a falar com ela.
- Olá! - Cumprimento eu.
- Oi! - Responde-me ela. - Nossa! Tempo maluco, não?
- Então... Um dia está frio e no outro está quente... - Torno a dizer. - Então, você está indo para o serviço?
- Não! Para a faculdade e você?
- Também.
- Onde você estuda? - Pergunta ela.
- Na estadual e você?
- Na Federal, mas antes tenho que passar na casa de um colega. - Responde ela, dando o sinal de parada. - Desço aqui. Tchau!
No dia seguinte, aliás, nos dias seguintes não a encontro mais. Foi quando voltando para casa e ao passar por uma banca de jornais vejo a seguinte manchete:
Jovem é assassinada brutalmente em apartamento na Capital.
Abaixo dela havia uma foto de Isabela seguida pelo texto:
Uma jovem, de vinte e um anos, foi encontrada morta em um apartamento que fica próximo ao Centro, em Campo Grande. O delegado responsável disse à imprensa que o crime possui requintes de crueldade assim como há suspeitas de que ela tenha sido estuprada.
Estava explicado o porquê de eu não tê-la vista mais no ônibus.
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