Lista de palavras "enfadonhas" — parte I

Recentemente, em meu perfil pessoal no Facebook, fiz um pequeno texto falando a respeito de algumas palavras da língua portuguesa que são "enfadonhas" — ou as responsáveis por tornarem o idioma que vos escrevo culto na fala e inculto na escrita, parafraseando Olavo Bilac. Como lá qualquer texto com mais de três linhas é chamado de "textão", limitei-me muito, deixando só a ponta do meu devaneio — porque a postagem teve origem em um pensamento muito do insistente.

Apesar do blog dar-me uma liberdade de escrever o quanto quiser, não quero publicar algo muito extenso e, portanto, cansativo. Por isso, caso eu veja que "escrevi demais", vou dividir o texto em partes — e, claro, linká-los para caso você queira lê-los todos de uma única vez.

Então, sem mais demoras: às armas!... digo... às palavras!

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CONSERTO E CONCERTO

As primeiras duas palavras a surgirem nesta lista são "homônimas", ou seja, são escritas diferentes, mas possuem a mesma pronúncia. Aliás, um spoiler: muitas palavras desta lista fazem parte dessa classe de palavras.

Lá no texto original, eu me limitei a falar apenas sobre a dor de cabeça que elas me dão por causa do corretor ortográfico — essa ferramente maravilhosa, mas "emburrecedora". Veja: conserto, com S, vem de "consertar" e, segundo o dicionário Priberam (clique aqui para ir à fonte), significa "reparação; arranjo; remendo". Por ser escrita da mesma forma que "concerto", quase não mais utilizado no Brasil graças a substituição por "show", eu sempre, quando falo sobre "consertar alguma coisa", escrevo-a com C porque, não sei, meu cérebro acha mais correto assim ser escrita. E lá vou eu pôr em xeque o meu potencial como professor de língua portuguesa.

Mas, da onde raios essas duas palavras surgiram?

Vamos começar por "concerto", com C, pelo simples motivo do meu cérebro achar que ela deveria ser escrita assim e ponto.

Ao pesquisar sobre essa palavra descobri algumas coisas. A primeira delas foi o fato de ela vir do verbo "concertar" e, segundo o Google (basta apenas digitar a palavra no buscador para ir à fonte), tem sete significados, entre eles: estar de acordo; ornar, armar, enfeitar; preparar, ensaiar; e, no meio jurídico, comparar (um documento, como a cópia e o original para saber se é o mesmo, por exemplo). A sua origem está na palavra latina concerto, que significa: combater, lutar — a explicação da lógica por trás disso vem do fato de que "qualquer luta visa a um ajuste". É... explicou, mas não convenceu. Parando um pouco para pensar, então foi verbo, na verdade, — e aí eu trabalho exclusivamente no campo do "eu acho" — que veio da palavra concerto, ficando como sinônimo de ensaio justamente porque "concerto" significa uma "apresentação musical extensa".

Com "conserto", tornarei a começar pelo verbo, neste caso "consertar": segundo o Google, são cinco significados possíveis para essa palavra, entre elas: tornar ao seu estado primitivo; refazer ou recompor e, ainda no Brasil, "enviscerar e pôr em condições de ir ao fogo" — este último eu sinceramente não vi a lógica, mas não é caso. Ainda utilizando a mesma fonte, a palavra tem um "ciclo evolucionário" — antes de continuar, entenda que os idiomas naturais, como a língua portuguesa, o inglês, japonês, guarani, são como os organismos "vivos" e, por isso, sofrem alterações, "evoluindo" e ajustando-se ao seu tempo —: a palavra latina clássica conserere deu origem a palavra no latim vulgar consertare e, daí, então, vem "consertar" em português.

Vou abrir um parenteses aqui antes de continuar: o latim foi o idioma oficial do Império Romano, que durou por séculos. Esse império governou todo o mundo "civilizado" conhecido da época e o contato com povos de diferentes culturas acabou dando origem a várias coisas, entre elas seis idiomas derivados do latim "vulgar" — calma lá que eu já explico —: o português, o espanhol, o francês, o italiano, o galego e o romeno — por isso a gramática e mesmo algumas palavras desses idiomas são tão parecidos. Latim "vulgar" era a língua falado pelos soldados romanos, pois eles não recebiam instrução formal e, por tanto, conheciam pouco da versão mais culta do próprio idioma. Por serem eles a levar a cultura e o dioma de Roma ao restante do mundo, foi essa variante a ser espalhada e, ao encontrar-se com outras linguagens, deu origem as línguas já citadas.

EXPRESSO E ESPRESSO

A língua portuguesa, conforme já dito, é um "organismo vivo" e, por isso, está em constante evolução, seja no modo de falar ou até mesmo adotando palavras novas — a todo o momento. É preciso entender que utilizar palavras estrangeiras, a depender do contexto, não desmerece em nada o idioma e posso citar como exemplo a "internet", ou você iria querer sempre digitar "estou na rede mundial de computadores"? Claro, existe a possibilidade de usar só a palavra "rede", porém, o único significado para essa palavra a vir a minha cabeça é aquela cama feita de pano e suspensa no ar por cordas, muito utilizada no Norte brasileiro — eu recomendo muito vocês tirarem uma "sesta" nelas.

Mas, o que isso tem a ver com essas duas palavras? É que "expresso" existe no português e significa, entre outras coisas, o que está explícito, declarado e, ainda, o trem que vai direto a algumas estações para ser mais rápido. Ah! Já quase esquecia: é também aquele cafezinho feito em máquinas de pressão e servidos em xícaras.

Espresso é uma palavra italiana e significa — um "parabéns" a quem acertar — "expressar", neste caso, no passado. Eu sei, parecia lógico, mas vai que era um "falso cognato" — também já explico, só espera um pouco.

Na realidade, ambas as palavras são usadas da mesma forma: para pedir aquele cafezinho maroto feito pelas máquinas que colocam o café sob pressão e é servido a nós numa xicrinha — guarde essa palavra porque mais tarde quero falar sobre ela. Então é errado usar o "italiano"? Não! Ora, se já usamos "show" mesmo em textos formais, quem teria força para nos impedir de usar "espresso"?

Ah! Só para constar: "cognato", segundo o dicionário Priberam (clique aqui para ir à fonte original), é a palavra com a mesma origem — ou, fazendo um acréscimo aqui, com o mesmo significado, no caso de um idioma para o outro. Então, falso cognato são aquelas palavras que até podem ser parecidas, mas que têm significados completamente diferentes de uma língua para a outra. Quer um exemplo? Parents, do inglês: nosso primeiro impulso é julgar o significado como "parentes", mas ela, na realidade, significa "pais".

Bom, é isso! Como eu disse lá no começo, não quero um texto muito extenso e, consequentemente, muito cansativo. Por isso, paro por aqui. É claro que vai haver uma parte dois, mas isso fica para outro dia.

Até a próxima!

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