O drama da tragédia


Ao centro do palco o poeta aproxima-se e, olhando para a plateia, discursa:

Pobre de mim,
Infeliz!
Desgraçado por Cupido
E sua maléfica mãe, Vênus.

Pobre de mim,
Injustiçado!
Desgraçado pela bênção
Que é a ilusão.

Pobre de mim!

Atrás surge a primeira parte do coro, formado unicamente por vozes masculinas vestindo longas túnicas e máscaras da comédia.

Pobre de vós
Desgraçado por Vênus
E seu brincalhão filho
Cupido.

Pobre de vós
Amaldiçoado pela ilusão
De pensar que um dia
Viver-te-ia isto que chamas paixão

Pobre de vós!

O coro masculino recolhe-se e, novamente ao centro do palco, o poeta torna a falar:

Vedes a verdade?
Vedes a verdade?

A verdade é libertadora
Mas também carrasca!

Quer as lágrimas
De quem não sabe amar

Quer as minhas lágrimas
Por eu não saber conquistar!

Vedes?
Vedes como a verdade
É carrasca?

Um novo coro entra, desta vez composto por mulheres de longas túnicas e mascaras da tragédia.

Ó fraco!
Ó infeliz!

Tentavas desde pequeno ser feliz
Mas desde o dia em que Vênus aparecera
Nunca mais soubeste o que era não ser infeliz

Pobre de ti!
Pobre infeliz!

Há uma pousa e o poeta, ainda com o coro feminino em cena, retoma seu lugar no palco, seguido logo atrás pelo coro masculino. Os dois coros, então, em uníssono, falam:

Bem-vindo ao mundo dos homens!
Bem-vindo ao mundo dos homens!

O coro feminino cala-se enquanto o masculino prossegue.

Bem-vindo ao mundo dos homens!

Bem-vindo ao mundo em que tu, homem,
És quem conduz a dança.

Os dois coros, mais uma vez, em uníssono.

Bem-vindo ao mundo das mulheres!
Bem-vindo ao mundo das mulheres!

O coro masculino cala-se enquanto o coro feminino continua.

Bem-vindo ao mundo das mulheres!

Bem-vindo ao mundo das mulheres em que tu, homem,
És responsável pela conquista!

Os dois coros calam-sem e o poeta discursa.

Dais a mim as boas-vindas ao mundo
A qual não pertenço.

Dais a mim as boas-vindas ao mundo
A qual não existo!

Eu não existo
Neste mundo!

Sou apenas um poeta
Que vive de rimas
E de sua poesia.

Quase que interrompendo a fala do poeta, o coro masculino o repreende.

És homem!
És homem!

Então aja como homem!

O poeta, surpreso, defende-se.

Sou homem sim!
Sou homem sim!

Mas só sei versar.
Não sei amar.

Agora é o coro feminino quem o repreende.

Não és homem!
Não és homem!

Sabes rimar
Mas não sabes nos fazer-te amar!

O poeta torna a defender-se.

Sou homem sim!
Sou homem sim!

Mas só sei rimar
Não sei amar
Nem como fazer vós me amar.

Os dois coros, em uníssono novamente.

Então não és homem, nem mulher.
Não és ninguém!

E ninguém é importante nisto que chamam conquista.
E ninguém é importante nisto que chamam amor.

De fato, tu não pertences a este mundo.

Os coros calam-se e uma das mulheres que estavam no coro feminino destaca-se tomando seu lugar ao lado do poeta.

Amaste-me com toda a intensidade de tuas palavras
E de teus poemas

Mas nunca conseguiste
Com eu retribuísse.

Amaste-me com toda a intensidade de teu desejo

Mas nunca conseguiste
Com que eu, amor por ti, também sentisse.

Ela cala-se e um homem, do coro masculino, aproxima-se dela.

Fui eu, que pertenço de fato a este mundo
Que conseguiu com ela também sentisse
O que tu nunca conseguiste.

Fui eu, que nem te conheço,
Que consegui sucesso
No que você nem imaginava dar certo
Em seus melhores sonhos.

Os dois calam-se e o poeta recomeça.

Desculpas, minha amada! 
Desculpas!

Ainda amo-te com todas as forças
Das minhas palavras

Mas não é a mim quem desejas.

Que sejas feliz ao lado dele
Para todo sempre!

O homem e a mulher beijam-se enquanto os coros e o poeta, com lágrimas do rosto, observa.

O poeta vira-se para plateia e diz:

Ai de mim!

O restante dos dois coros, em uníssono:

Ai de voz,
Infeliz!

Nenhum comentário:

Postar um comentário