Conto de Fada

Ainda era bem nítida a primeira vez que a viu: reluzente como uma bela dama, daquela que só se vê em contos de fada.

O tempo foi passando e ela foi ficando mais bela; mais reluzente — como num livro em que, quanto mais vamos lendo, mais e mais não conseguimos parar e ir dormir.

O único problema é que ela era somente um conto de fadas e, tal como nos livros, quanto mais se lê, menos sono temos e menos páginas nos restam. Infelizmente ainda não existe "uma história sem fim" e, sendo assim, ela também foi passando de mocinha a vilã.

Sua reluzência, sua beleza, tudo foi caindo por terra... Tudo foi transformando-se em um enorme e horrendo monstro que, de confortador, passou a atormentador.

Era insano: nos sonhos ela aparecia, sempre linda e bela e, com o passar da noite, ia transformando-se — deixando qualquer personagem de filme de terror pasmado com o que ela conseguia provocar de pavor.

Mais insano ainda era que, mesmo acordado, ela ainda persistia em seu trabalho de atormentar; de fazer pensar no quanto ele, um ninguém que só tentava saber como caiu em tal armadilha, era um simples ninguém.

Era desumano, já que sua aparência de monstro não devia em nada para as mais belas damas dos contos de fadas — era a vilã e a mocinha, ao mesmo tempo, como um "remake" estado-unidense de antigos contos europeus.

E era essa a imagem que tanto o perseguia: a imagem dele junto a ela, junto para todo sempre. Porém, igual ao príncipe de Cinderela, à meia noite tudo voltava ao normal, deixando apenas um sapatinho de cristal que, aliás, chamava-se "Ilusão".

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