Ídolos

Luanna era uma adolescente de longos cabelos negros e olhos esverdeados na faixa dos dezesseis anos de idade e aluna da Primeira Escola de Mato Grosso, tão grande em excelência educacional quanto a mentira expressa em seu nome. Tinha como hobby escutar músicas estrangeiras (rock).

Possuía um circulo de amizade invejável a qualquer estudante do ensino médio, até mesmo para os mais populares.

Até onde se sabia, não havia pessoas que a quisesse mal — só o que existia eram as que dariam de tudo para estarem no seu lugar; serem como ela.

Alana era uma delas: tinha quase o mesmo perfil da adolescente, com exceção dos amigos e, principalmente da beleza — a garota tinha cabelos curtos, de um suave tom de roxo; seus olhos eram castanhos negros. Apesar de também gostar de rock, estava quase ao ponto de entender a língua japonesa sem auxílio externo, proeza dos seus tempos de fã de animes e mangás.

Para melhor exemplificar sem deixar equívocos quanto à aparência de uma e outra, digo que o que a admira-dora de Luanna via no espelho quase todos os dias de manhã, antes de ir para escola, não chegaria ao ponto de uma estética desprezível, como também não seria aceito pela nossa atual sociedade como uma modelo de algum produto estrangeiro. Era o suficiente para a adolescente ser desejada por Mauricio, que fazia de tudo para ser notado assim como para estar ao lado dela, mesmo sendo, quase que diariamente, bombardeado por esculachos.

A atual situação seguiu por todo o ensino médio. Ao chegar ao ensino superior o que era admiração transfor-mou-se em obsessão.

— Mas, o que você tanto gosta nela e em Ricardo?

— O quê? Você pergunta algo que está explícito em Luanna: a perfeição.

— Alana, ela é humana! Assim como você ela dorme, come, respira...

— Oras... Disso eu sei e é por isso que continuo a fazer tudo isto. Sabe, às vezes, até penso que ela é um pre-sente divino, uma dádiva.

— Se eu não te conhecesse, diria que isso é paixão.

— Oras, não sejas bobo. Só para confirmar: sou apaixonada por Ricardo. Luanna é somente meu ídolo.

— Sinceramente...

— Nem precisa continuar que não pedi tua opinião. Ando contigo ainda não sei o porquê.

Em um dia nublado, após sair de um aniversário numa madrugada de sexta-feira para sábado, Luanna, Ricardo e mais dois amigos retornam de carro ao alojamento dos estudantes. Um desses dois últimos era o motorista e dirigia sob forte influência de várias cervejadas, fato que não incomodava a ninguém, já que o casal namorava tranqüilamente no banco de trás enquanto que o da frente dormia com a cabeça encostada na porta.

Antes de conseguirem chegar ao destino, o carro onde o quarteto se encontrava choca-se de frente com outro, que vinha na pista contrária. O ocorrido gera seis mórbidos frutos: os quatro universitários e os pais das duas únicas vítimas que conseguiram sobreviver.

Após o acidente seguiram-se duas semanas de luto. Alana acabara extremamente abalada, chorando desde o velório até o enterro do quarteto.

Passam-se dois anos. Quase ninguém mais se lembrava do nome Luanna, a não ser quando seguido pela histó-ria do trágico acidente — que, se não fosse pelos esforços de Alana, já também teria sido esquecido.

— Como você está?

— Muito bem. Acabo de retornar do cemitério.

— Então... Isso que eu queria...

— Ah, Mauricio... Poupe-me de seus comentários. Sei que vai dizer que não me faz bem ir todos os dias conversar com minha amiga, mas é mentira.

— Ela infelizmente faleceu. Eu sei... Dói, mas... Isto realmente te faz mal. Por favor, me escute: viva a sua vida.

— Então faço minha as suas palavras: “viva a sua vida”!

Depois daquela conversa, o rapaz finalmente desiste de seu amor platônico, enquanto que, mesmo após muito tempo, Alana ainda vai ao cemitério diariamente, afastando-se de tudo e de todos sem nunca ter vivido por si mesma.

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