História de cores


Um jovem, em algum lugar do espaço-tempo (ou seria tempo-espaço?) caminhava por uma longa estrada de tijolos azuis. Tempo de outono, o azul destoava do cinza, preto e branco do restante da paisagem.

No horizonte ainda inalcançável, tons de laranja, vermelho e amarelo anunciavam o eterno verão que existia além daquele caminho.

Dentro do jovem tons de branco se misturavam ao vermelho de seu sangue jogado para todas as direções por seu coração até então sereno.

A caminhar sem objetivo, apenas a viver e a degustar o horizonte inalcançável, a estrada de tijolos azuis se divide em dois caminhos diferentes: um que continuava azul sob a mesma paisagem do outono e o outro laranja, sob o tempo do inverno preto e branco.

Sem saber qual caminho tomar, o jovem para.

Na estrada de tijolos azuis havia uma mulher de feições sérias. Vestia-se de preto e branco e tinha olhos cor-de-jabuticaba escondidos atrás de um óculos.

Na estrada de tijolos laranjas e tempo do inverno preto e branco havia também uma mulher: feições angelicais com um olhar cor-de-céu profundo com um belíssimo vestido cor-de-sangue. "Venha!" chamavam as duas em uníssono.

A imagem da mulher da estrada de tijolos azuis fazia com que o interior do jovem alternasse entre o branco, laranja e amarelo misturado ao sangue vermelho jogado para todas as direções pelo seu coração ainda sereno.

A imagem da mulher da estrada de tijolos laranjas fazia com que o branco no interior do jovem ficasse vermelho; um vermelho rubro que, misturado ao sangue vermelho, disparava seu coração.

O jovem ainda continuava parado, sem conseguir decidir qual caminho tomar.

O tempo, seu parceiro na caminhava, não gostou da ideia de ter que parar para pensar e continuou andando, em um caminho que somente ele podia pisar e da qual não tinha volta.

Já quase perdendo de vista seu companheiro de caminhada, o jovem resolve perguntar aos quatro ventos o que fazer. Apenas o sul e o norte se dispuseram a respondê-lo.

- Continue pela estrada de tijolos azuis. Desde sempre o horizonte é o mesmo: igual e certo. - Disse o vento norte, com seu hálito de verão.

- Vá pela estrada de tijolos laranjas. Não há horizonte, mas a mulher que lá existe conseguiu mexer mais com teu interior do que àquela que há na de tijolos azuis. - Disse o vento sul, com seu hálito de inverno.

"Realmente", pensou o jovem, "a mulher da estrada de tijolos laranjas me atrai mais que àquela da estrada de tijolos azuis".

Sem perceber, o jovem caminhava por uma estrada de tijolos laranjas sob o tempo do inverno preto e branco ao lado do tempo e da mulher de vestido cor-de-sangue e olhos cor-de-céu.

Em algum lugar do tempo-espaço (ou seria espaço-tempo?) um jovem caminhava por uma estrada de tijolos laranjas. Tempo de inverno preto e branco, o laranja destoava do negro do céu e do branco da paisagem. Ao seu lado tinha o tempo e uma mulher de olhos cor-de-céu vestida com um vestido cor-de-sangue.

Preocupado apenas em fazer com que o interior da mulher ficasse igual ao seu, o jovem não percebeu que caminhava para um precipício.

Sem ter aonde seguir, o jovem resolve voltar. "Não!" disse o tempo, "não é me dado este luxo e então eu também não o dou a você".

- Então dê-me você este luxo, mulher. - Pede o jovem para a mulher.

- Não posso. Achei que meu interior continuaria a mudar se continuasse a caminhar contigo, mas ele continua o mesmo. - Responde a mulher. - Infelizmente.

O interior vermelho rubro do jovem muda para preto; um preto que se mistura ao vermelho do sangue jogado para todas as direções pelo seu coração dolorido.

Sem opções, o jovem se joga no precipício. A queda o embriaga, fazendo-o perder de vista seu companheiro tempo.

Caindo em um imenso buraco (ou seria um precipício?), um jovem com o interior preto e de coração dolorido se vê em uma paisagem branca, sem fim. O tempo, seu fiel companheiro de caminhada, entrega-o um lápis, avisando-o que ele só iria parar de cair a partir do momento em que ele mesmo começasse a compor sua própria história.

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