Panem et circenses

Na Roma antiga, para que a população não se colocasse contrária ao governo, os governantes resolveram dar ao povo imensos (e sangrentos) espetáculos assim como distribuir pão. Desta forma enchia-se a barriga e o tempo das pessoas, fazendo-as não agir contra as ações dos políticos.

Independente da forma como tal método de controle social chegou ao Brasil, ele é, desde então, utilizado incansavelmente. Provas disso não faltam, mas recentemente uma acabou dando errado: "a vinda da Copa do Mundo para o país".

Antes de mais nada, a questão não vai contra o futebol como esporte, mas como um jeito de desviar a atenção de todos para assuntos mais sérios, como a própria política, por exemplo.

Dizia-se que com a vinda do "maior espetáculo da terra", como aparece em uma das canções em comemoração ao evento, setores como segurança pública e infraestrutura seriam melhoradas, mas o que realmente se vê, há poucos dias do jogo de estreia, são estádios e obras atrasadas — e claro, bilhões desviados.

Contudo, um bom texto não se faz com generalizações, por isso não posso dizer que o torneio mundial de futebol trouxe somente coisas ruins, pois a vinda da mídia estrangeira pode ser considera como algo bom. Com repórteres sendo enviados especialmente para a cobertura do evento, o mundo começa a ver, nas entrelinhas, como o povo brasileiro realmente está — e também começa a desmascarar o discurso governista de que "estamos todos contentes".

Também se nota uma maior conscientização do povo, que ao lado das decorações (patrocinadas por empresas ligadas direta ou indiretamente ao mundial) colocam imagens de protesto, assim como indagam "Copa pra quem?"

Protestos acontecem aqui e ali, em menor proporção que os que ocorreram ano passado, é verdade, mas que demonstram que ainda tem gente que não mais se contenta unicamente com o pão e o circo; que quer ver os seus altos investimentos em impostos retornarem.

Como dito no começo deste texto, a política do Panem et circenses surgiu na Roma antiga e foi espalhada pelo mundo, porém, todos se esquecem que esta mesma política trouxe impostos ainda maiores ao império assim como acabou sufocando sua economia (conseguem ver alguma semelhança?).

É claro que a Copa vai acontecer, pois há muitos interesses envolvidos assim como muito dinheiro, porém, um passo importante foi dado: o brasileiro começou a aprender que vivemos em uma democracia plena, ou seja, que temos todo o direito de ir contra ao circo e ao pão em troca do retorno de nossos impostos e, claro, de melhorias em nosso dia a dia; que não se vive somente de futebol e que patriota não é só aquele que grita "Brasil!" de quatro em quatro anos.

Ainda é pouco, eu concordo, mas se ninguém esperava por uma população enfurecida e em marcha contra um evento que todo o mundo tinha a certeza de que seria muito bem aceito por todos, por que não crer que chegará o dia, também, em que todos dirão não à corrupção?

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