Em um tribunal o clima é tenso. Como era um julgamento aberto, além da imprensa, curiosos e estudantes de Direito lotavam os bancos na plateia — fora os que aguardavam pelo lado de fora, impedidos pelos seguranças de entrarem por causa da falta de espaço.
No banco dos réus está um jovem príncipe trajando suas melhores roupas, com uma clara expressão tensa no rosto ao lado de seu advogado — um sujeito de olhar sério e penetrante. Na outra ponta estão o promotor — um homem de meia idade —, uma mulher vestindo-se igual a uma bruxa e uma jovem de longos cabelos loiros e olhos azuis.
“Todos de pé”, pede o segurança ao lado da cadeira do juiz, anunciando a entrada do magistrado.
— Por favor, todos sentados. — Fala o juiz, um homem austero e quase sem cabelos. — A promotoria gostaria de se pronunciar primeiro?
O homem de meia idade levanta-se, olha para os jurados — compostos por cinco mulheres e dois homens —, para a plateia e começa a discursar:
— Boa tarde a todos os que se dispuseram a participar deste histórico julgamento. Como vossas senhorias sabem, nós estamos aqui hoje não para julgar aquele sentado no banco dos réus, mas para trazer paz a esta jovem dama; paz a ela e à sua família, uma paz que só virá com o cumprimento da lei em cima desse sujeito!
— Protesto! — Exclama o advogado de defesa, levantando-se de sua cadeira.
— Negado. — Responde o meritíssimo. — Por favor, a promotoria pode prosseguir.
— Como eu ia dizendo, estamos todos aqui para decidir não o destino desse rapaz, mas desta jovem moça. Durante cem anos ela dormiu tranquila em sua torre, no castelo de seus pais até que este...
— PROTESTO! — Grita o sujeito de olhar sério. — Não irei admitir que utilizem adjetivos chulos com o meu cliente.
— Aceito! Contudo, por favor, ou senhor se controle, ou na próxima vez que voltar a gritar, terá que pedir ao seu cliente para que arranje outro advogado de defesa. — Determina o magistrado. — E ao senhor promotor, vale o mesmo, caso queira, novamente, utilizar de palavras de baixo calão para com o réu.
— Peço perdão aos presentes... Em todo o caso, a pessoa em questão praticou atos libidinosos com a mulher que está sentada no banco das vítimas enquanto ela dormia, tendo, inclusive, diversos filhos com a mesma! Não se deixem enganar, meus colegas do júri, por esta carinha nova e inocente, pois, por trás dela existe um... — A intenção do bacharel era dizer “monstro”, mas conseguiu frear, a tempo, sua boca, evitando mais uma bronca do juiz. — ...Um homem que deveria estar preso a tempos.
Ocorre um burburinho na sala por causa das palavras do promotor.
— Ordem! — Ordena o meritíssimo, batendo com força seu martelinho na mesa. — ORDEM! — A sala ainda teimava em continuar. — Caso os demais não fiquem calados, terei que pedir para que fechem este julgamento! — Pouco a pouco a sala torna a ficar em silêncio.
— Como os senhores podem ver até mesmo quem está na plateia concorda com que estou a dizer: o lugar deste homem é a cela de uma prisão; uma em que possam o colocar e jogar a chave fora!
Por um momento o advogado de defesa pensou em protestar, mas as expressões do juiz o fizeram recuar. O promotor continua:
— Peço, humildemente, que pensem com cuidado na decisão que terão que tomar hoje. É a honra de uma jovem princesa que está em jogo aqui! — Finaliza ele, agradecendo a todos e retornando à sua cadeira.
— Por favor, a defesa pode se pronunciar. — Anuncia o meritíssimo.
O advogado levanta-se, cumprimentando a plateia e aos jurados:
— Boa tarde a todos! Hoje estão levantando calúnias terríveis contra o meu cliente, este jovem príncipe, sentado injustamente no banco dos réus quando, na verdade, deveria estar a cavalgar pelos prados deste nosso abençoado país!
“Todos conhecemos a história pelo ponto de vista da princesa, mas não pelo do príncipe. Contudo, creio que seja a hora de ouvir a versão do jovem herói, que se arrisca a salvar a dama indefesa”.
— Protesto! Senhor juiz, a história em questão já consta nos altos, portanto, é irrelevante para o andamento deste julgamento que meu colega a reconte. — Articula o promotor.
— Negado. — Responde o magistrado. — Continue senhor advogado.
— Pois então. Meu cliente encontrava-se com dezesseis anos quando boatos de uma princesa presa na torre mais alta de um castelo começaram a circular. Em principio somente os plebeus tinham conhecimento dessa “suposta princesa indefesa”...
— Protesto, meritíssimo! Não estamos aqui para julgar a vítima. — Adverte o homem de meia idade.
— Aceito! Cuidado com suas acusações. — Responde o juiz.
— Desculpas, meritíssimo. — Pede ele. — Pois então, como eu ia contando, no começo os boatos de uma “bela adormecida” circulavam somente entre os plebeus, foi então que, em uma visita ao mercado, meu cliente ficara sabendo dela, assim como das histórias de quem tentava atravessar o muro de espinhos e outras armadilhas mais, montadas por uma pessoa presente nesta sala.
— Protesto! Senhor, consta nos altos que a pessoa a qual ele se refere já não só foi julgada como absolvida de todas as acusações, tornando as queixas do meu colega ainda mais irrelevantes do que as declarações passadas. — Argumenta o promotor.
— Aceito, contudo, entendo que para o andamento da história fez-se necessária essa parte, mas já aviso para que a defesa deixe o trabalho de julgar para os jurados, sendo este meu último aviso. — Replica o meritíssimo. — A defesa pode continuar.
— Após saber desses boatos e cheio do espírito que é somente comum aos príncipes e membros da alta realeza, ele decide ir atrás de mais informações a respeito dessa bela. Foi então que um vendedor, atrás de mercadorias, contou-lhe tudo o que meu jovem cliente gostaria de saber, assim como chegar lá, deixando ainda mais a par dos perigos e do que se imaginava ser necessário para que alguém pudesse, enfim, salvar a jovem moça. E então, com o aval de seus pais, ele decide partir.
“Foram vários dias, aliás, vários meses até, finalmente, avistar o castelo onde diziam estar enclausurada a ‘bela adormecida’, circundado por um muro de espinhos. Contudo, este não foi um dos maiores desafios, já que na cidade havia uma ‘maldição do sono’, que fazia com que qualquer um que adentrasse em suas imediações fosse imediatamente invadido por uma louca vontade de dormir.
Como meu cliente é uma pessoa muito observadora, conseguira avistar os diversos príncipes e guerreiros que, tal como ele, também tiveram a ousadia de tentar salvar a jovem, mas não a mesma sorte ou o mesmo poder de observação.”
Toda a sala escutava atentamente a história. Apesar de não ser inédita, era fato que se conhecia somente o ponto de vista da princesa, então a curiosidade aguçava a todos a permanecerem calados, bebericando cada palavra do advogado de defesa.
— Como meu cliente conseguira vencer, então, tal maldição? Simples, meus caros: vontade e paixão pela aventura! — Continua o bacharel, observando a reação que suas palavras causavam nas pessoas. — Após esse obstáculo, agora faltavam os espinhos.
“Mas, mais uma vez, o protagonista desta pequena história era muito vivo e esperto e lembrara-se, então, de sua espada, utilizada até aquele ponto somente para apresentações e, claro, no seu árduo treinamento que, todos os dias, realizava com seu pai e o seu mestre de armas.
Então, como manteiga, os espinhos foram caindo perante sua lâmina e finalmente ele consegue chegar ao castelo, ou ao menos era o que ele pensava: quando se preparava para escalar a torre, um enorme dragão surge nos céus, jorrando fogo pela boca e pelas ventas, se dirigindo furiosamente contra ele.
Não foi uma batalha fácil! Porém, com garra e raça, meu cliente fora o vencedor, espantando a besta fera para longe. Foi ai que finalmente ele a vira: de beleza estonteante, ela era seu prêmio, conseguido por meio de muito suor e luta.”
— Meritíssimo — inicia o promotor — falando deste jeito meu colega parece insinuar que a dama sentada aqui é, na verdade, um prêmio para aqueles que conseguiram passar por uma gincana e não uma pessoa, aliás, uma mulher que merece proteção e auxílio do Estado.
— Peço desculpas se fui mal interpretado — replica o bacharel, observando a reação dos jurados — mas o que quero demonstrar aqui é justamente isso: estava implícito para qualquer um que, na realidade, a “bela adormecida” não passava de um prêmio a ser conquistado pelo mais bravo. Não que ela merecesse isso, contudo, qualquer um que conseguisse superar aqueles obstáculos, com certeza teria pensado a mesma coisa.
A sala torna a ficar agitada e, tanto promotor quanto advogado se voltam para o juiz, que tinha no rosto a mesma expressão de quem raciocinava a respeito de alguma coisa.
— Ok! Por favor, defesa e promotoria venham a minha mesa. — Pede ele. — Escutem bem: isto já está virando palhaçada! Ou os dois entram em um acordo ou então serei forçado a adiar essa sessão.
— Certo, meritíssimo — respondem os dois.
— Voltem aos seus lugares.
— Finalizando meus argumentos — continua o advogado —, peço para que meus caros colegas do júri entrem, por um instante, na cabeça de meu cliente; que por alguns instantes raciocinem como um príncipe, perguntando-se: “o que eu faria no lugar dele?”, “será que eu não pensaria da mesma maneira?”. Grato pela atenção de vocês.
Ele retorna para o lado do réu, sem olhar para os jurados, que agora trocavam olhares entre si.
— Como a promotoria começou se pronunciando, agora a defesa começa apresentando suas testemunhas. — Avisa o magistrado. — Por favor, senhor advogado de defesa.
O sujeito de olhar sério torna a se levantar, dirigindo-se à bancada ao lado do juiz:
— Peço para que entre Matthias Beich, o vendedor que contou tudo sobre a “bela adormecida” ao meu cliente.
Pela porta adentra um homem na faixa dos quarenta anos de idade com um terno bastante surrado e gasto tal como seus sapatos, procurando não olhar para os lados.
— Por favor — orienta o advogado de defesa — levante sua mão direita e repita depois de mim: em nome do El Rei Dariusz, da 3º geração Schiffer e também perante os que estão aqui até as mais remotas partes do reino de Märchen, juro solenemente dizer somente a verdade, sob a pena de que cortem a minha cabeça caso o que disser não estiver de acordo com a realidade.
— Em nome de El Rei Daiusz, da 3º geração Schiffer e também perante os que estão aqui até as mais remotas partes do reino de Märchen, juro solenemente dizer somente a verdade, sob a pena de que cortem a minha cabeça caso o que eu disser não estiver de acordo com a realidade.
— Senhor Beich, será que poderias confirmar aos presentes que fora o senhor que contou a história completa da “bela adormecida” ao meu cliente?
— Sim, fui eu.
— E quando foi isto?
— Não lembro exatamente a data, mas foi no mercado. Eu estava atrás de mercadorias para revender em outros lugares.
— E o que foi, exatamente, que o senhor contou?
— Contei a história que circulava faz tempo nas tabernas e também no próprio mercado do reino.
— Será que o senhor poderia recontá-la para os jurados?
— Dizia-se, até então, que havia uma moça presa no alto de uma torre num castelo distante daqui. Muita gente tinha ido procurá-la, contudo, ninguém tinha retornado. Foi então que o povo começou a dizer que existia um dragão cuidando do castelo; que tinha uma parede de grossos espinhos em volta da construção...
— Boatos, até então?
— Sim.
— Mas há uma parte crucial nessa história. Por favor, senhor Beich, será que poderia continuá-la?
— Então, falava-se também que, aquele que conseguisse salvar a moça da torre a teria como esposa.
Ao terminar de digerir as palavras do mercador, o promotor quase se permitiu protestar, contudo, lembrara-se a tempo da breve conversa que tivera com o juiz, mais cedo.
— Por favor, poderia repetir esta última frase? — Pede o bacharel, fazendo uma concha com a mão em uma de suas orelhas.
— Ah! A parte em que eu disse que, aquele que conseguisse salvar a bela a teria como esposa? — Repete o mercador.
— Estão ouvindo, meus caros? Estão a ouvir que tudo, na lenda, anunciava o direito à mão desta jovem moça àquele que a conseguisse salvar? Não tenho mais perguntas.
O advogado de defesa volta para seu lugar e, quase ao mesmo tempo, o promotor vai em direção à testemunha:
— Boa tarde senhor Beich. — Cumprimenta ele. — O senhor disse que antes de todo esse estardalhaço, a “bela adormecida” não passava de uma lenda, estou certo?
— Sim senhor. — Responde o mercador.
— O senhor, por um acaso, conhece outras lendas?
— Claro, conheço várias.
— E, ainda por esse mesmo acaso, o senhor conhece a lenda da “Branca de Neve”?
— Conheço sim senhor. Aliás, dizem que também não é mais lenda; que aconteceu de fato.
— E o senhor, de forma breve, poderia contá-la ao júri?
A mesma reação que tinha acontecido com o promotor acomete o homem de olhar sério: queria, também, permitir-se levantar e protestar — aquela história, a da “Branca de Neve”, apesar de ser completamente irrelevante ao caso, poderia colocar o jogo a favor da acusação —, mas o aviso do meritíssimo ainda era claro em sua mente e, por isso, permaneceu calado, apenas a observar e a ouvir.
— Há muito tempo uma menina de pele branca como a neve e lábios vermelhos como o sangue vivera em um reino próximo daqui. — Narra Mathias, com seus olhos castanhos fixos no promotor. — Ela era a mais bela de todas e, justamente por isso, acabou em desgraça com sua madrasta, uma bruxa vaidosa e maléfica.
“Tentando por fim à enteada, a então rainha contratou um caçador para matá-la; felizmente, ou não, o pobre homem não conseguiu realizar o serviço e mandou a garota para bem longe, avisando-a para que nunca mais voltasse ao castelo.
Sem saber aonde ir, a pobrezinha acabou achando a casa de sete anões que trabalhavam na mina de diamantes do outro lado do bosque. Eles a acolheram até a madrasta dela tentar, novamente, assassiná-la.
Disfarçada como uma velha, que vendia maçãs, a bruxa conseguira com que ela mordesse uma de suas frutas, a mais vermelha e bela da cesta que carregava e, claro, contendo um poderoso veneno em seu interior.
Os anões, coitados, não conseguiram enterrá-la e, então, puseram-na em uma redoma de vidro, toda ornamentada com flores e diamantes, na esperança de que algum dia eles conseguissem a cura para aquela desgraça.
Foi então que, num belo dia, um príncipe, passando por ali, a viu, apaixonando-se por ela a primeira vista. Um pouco relutantes, os anões abriram a redoma para que ele pudesse a beijá-la e, então, como milagre, a moça desperta.
Dizem as línguas que até hoje ela mora com seu príncipe em um castelo próximo daqui”.
— Então o mesmo homem que a beijou também a tomou como esposa, é isso? — Questiona o homem de meia idade.
— Sim.
— Apesar de, em princípio, o beijo não ter sido consensual, depois a própria senhorita, aliás, senhora Branca aceitou partir com o homem que a beijara.
— Sim.
— Sem mais perguntas.
De fato, a promotoria tinha, mais uma vez, virado o jogo. Agora o príncipe encontrava-se em uma situação mais delicada.
— A defesa tem mais alguma testemunha? — Indaga o magistrado.
— Sim! Gostaria de chamar ao banco a senhora Petra Fuhrmann.
Novamente a plateia se alvoroça: Petra Fuhrmann nada mais era que a bruxa que lançara a maldição na “bela adormecida” e agora se encontrava sentada ao lado dela. A mulher, com um claro assombro no rosto, levanta-se e vai até a bancada, onde realiza seu juramento.
— Boa tarde senhora Fuhrmann — cumprimenta o bacharel — a senhora, antes de mais nada e, lembrando desde já de seu juramento, poderia nos contar resumidamente o porquê de ter lançado uma “maldição do sono” sobre a moça que estava sentada ao seu lado?
As palavras daquele homem foram como uma flecha afiada a penetrar o coração da mulher, ela já tinha sido julgada e absolvida, contudo, tinha que, uma vez mais, contar para uma corte de jurados a sua versão dos fatos.
— Protesto! — Levanta-se o promotor, contendo-se para não gritar ou fazer estardalhaço. — Como eu já havia dito anteriormente, meritíssimo, a senhora Fuhrmann já fora julgada e absolvida. Não vejo justificativas palpáveis para que ela esteja sendo interrogada.
Por um momento promotoria e defesa ficam tensos, como quem esperando outra bronca, contudo, e até de certa forma, meio estranho, o juiz apenas responde “negado”, afirmando que àquela situação não via que a defesa estava enquadrando a mulher como ré, mas como testemunha. “Por favor, senhora Fuhrmann, responda a pergunta da defesa” pede ele.
— Quando a senhorita Bela nascera, todos, sem exceção, haviam sido convidados; até mesmo o mais desconhecido plebeu recebeu um convite para o batizado dela. Contudo, seus pais, o rei e a rainha, tinham esquecido uma pessoa: eu! — Discursa a bruxa, medindo cada palavra que explanava. — Eu que tinha feito tantos favores ao reino! Eu que...
— Ok, senhora Fuhrmann, peço perdão por interrompê-la, mas nosso tempo é curto, por isso peço para que vá direto ao ponto.
Meio desgostosa, a mulher continua:
— Sabendo do que os pais dela fizeram comigo eu acabei em um estado de fúria e demência e, sem pensar em meus atos, resolvi aparecer ao batizado e lançar a “maldição da morte” sobre a garotinha, contudo, as fadas Blau, Gelb e Rot conseguiram amenizar meu feitiço, transformando-o em uma “maldição do sono”.
— Mas essa maldição possuía uma condição para acontecer, estou certo? — Indaga o bacharel, observando hora os jurados, hora a testemunha.
— Sim! Mesmo tendo amenizada, minha maldição ainda seria ativada quando ela completasse dezesseis anos e machucasse seu dedo na agulha de uma roca. Claro que os pais dela fizeram de tudo para que os aparelhos de fiar fossem expurgados do reino, mas mesmo assim ela acabou se espetando.
— Então por que existia outra “maldição do sono” lançada sobre o reino assim como um muro de espinhos em volta ao castelo?
— Na realidade a maldição do sono foi lançada pelas fadas, assim como o muro de espinhos também é obra delas. A única coisa que eu realmente fiz foi montar guarda como dragão.
Burburinhos contaminam a sala: se anteriormente a promotoria havia virado o jogo, agora era a defesa que passava à frente, já que todos pensavam que todas as proteções montadas em volta do castelo eram obras da bruxa.
— E a parte do “beijo”? Fazia parte, também, da sua maldição? — Torna a perguntar o advogado de defesa.
— Não, claro que não. Depois de o alvo ter ativado essa maldição, a da morte, não existe antídoto, contudo, para a “maldição do sono”, apenas um beijo do amor verdadeiro pode despertar a vítima.
— Sem mais perguntas.
Finalizar aquele interrogatório deixara o promotor intrigado: seu colega tinha, quase que literalmente, a faca e o queijo na mão, então, por que abandonar a tribuna daquele jeito? Foi então que ele logo descobre a resposta.
— Senhor promotor, poderia se pronunciar? — Questiona o meritíssimo.
“O que perguntar?” indaga-se o homem de meia idade; “safado! Ele jogou e acertou nos dados”.
— Desculpas! Sem mais perguntas. — Responde o promotor.
— Por favor, senhora Fuhrmann, volte ao seu lugar. — Pede o juiz. — A promotoria gostaria de chamar mais alguém?
— Sim! Chamo ao banco a senhorita Bela!
Era um tiro no escuro. O promotor estava encurralado e a defesa sabia disso. Chamar a vítima para depor deveria ter sido seu trunfo e não sua última cartada.
Feito o juramento, o homem de meia idade começa a questionar a moça:
— Senhorita Bela, poderia contar a corte e, lembrando que está sobre juramento, como tivera a sua primeira relação sexual?
Ela, com o rosto ruborizado e com uma voz tímida, responde:
— Enquanto dormia.
— Sem mais detalhes?
A moça responde com um aceno de cabeça.
— A senhora tem filhos, não tem?
— Sim.
— Quantos?
— Dez.
— Todos com o mesmo homem?
Ela torna a responder com um aceno de cabeça.
— A senhorita poderia apontar, caso ele esteja presente neste tribunal, quem é o pai das crianças?
Bela, timidamente, levanta seu indicador direito e aponta para o príncipe, enquanto o promotor observava a bancada dos jurados.
— A senhorita sabia, não sabia, da maldição que havia sido lançada sobre você, estou certo?
— Meus pais nunca me contaram nada. Só fui saber mesmo depois de acordar.
— E quando foi isso?
— Um pouco antes de o meu sétimo filho nascer: ele estava em cima de mim e tinha me beijado.
A última pergunta, o homem de meia idade bem sabia, tinha sido um tiro no pé, e o sorrisinho que quebrava um pouco o olhar sério e penetrante do bacharel ao lado do príncipe indicava que a defesa já tinha ciência disso.
— Sem mais perguntas.
O promotor retorna ao seu lugar enquanto o advogado de defesa se segurava em sua cadeira, com a perna balançando em um claro sinal de ansiedade.
— Por favor, a defesa quer se pronunciar? — Pergunta o juiz, de praxe.
— Boa tarde senhorita Bela — cumprimenta o advogado, levantando-se apenas de sua cadeira, sem sair de seu lugar. — Tenho apenas algumas perguntas. A senhorita poderia nos dizer se ama a pessoa que está ao meu lado?
Com o rosto ainda mais vermelho, Bela acenara a cabeça em um sinal de “sim”.
— Poderia dizer isto em voz alta?
O promotor queria protestar, mas sabia que era inútil.
— Eu o amo.
— Então todos os filhos que você tivera dele, por assim dizer, foi consensual?
Há um silêncio na sala: todos sabiam que aquela resposta definiria tudo.
— Sim.
— Sem mais perguntas, meritíssimo.
Estava feito! Todos falavam alto, comentando a última resposta. O magistrado batia inutilmente seu martelinho em sua tribuna, mas a plateia ignorava o gesto. Somente após vários minutos, assim como o fechamento do julgamento, é que a sala voltara a ficar em silêncio.
— E então, primeiro jurado, qual é a decisão de vocês?
— Utilizando como base a própria questão da “maldição do sono”, em que somente um beijo de amor verdadeiro poderia despertar o amaldiçoado assim como as declarações da própria vítima, julgamos o réu, por quatro votos a três, inocente das acusações de estupro. — Os poucos jornalistas que conseguiram permissão para ficar dentro do tribunal seguravam-se para ficarem quietos. — Sobre as acusações de invasão de domicílio, ainda tendo como base o texto da própria maldição, desta vez de forma unânime, consideramos o réu inocente.
O príncipe pula de sua cadeira, abraçando seu advogado de defesa e comemorando sua absolvição. O promotor apenas olha para Bela e para Petra, com uma expressão que dizia: “nós tentamos” e se dirige ao colega, cumprimentando-o pela vitória.
Ta aqui o desafio que eu prometi:
ResponderExcluirRumpelstiltiskin. E vc vai defender ele mesmo.
Isso não é pra mim nenhum resultado do vício por Once Upon a Time ou algo do tipo. É simplesmente pq é um conto que eu nunca entendi, nunca fez sentido a culpa recair sobre ele, afinal o que ele pediu era algo difícil demais de se dar como pagamento, mas o preço foi aceito!
Então eu gostaria de ver a defesa dele e o conto que eu me baseio é o do livro Um Tesouro de Contos de Fadas, que tenho e li quando tinha uns 7 anos.
Imagem da capa: http://skoob.s3.amazonaws.com/livros/19386/UM_TESOURO_DE_CONTOS_DE_FADAS_1237302270P.jpg
Mas de qualquer forma todos os contos são bem parecidos, então pode usar outras fontes como base.
Boa sorte :D