A verdadeira história de Cinderela

Foi a segunda esposa do meu tio quem contou, pela primeira vez, essa história para mim - e foi por causa dela que, pela segunda vez no bimestre, meus colegas tornaram a rir as minhas custas quando eu disse para a professora, que contava outra versão dela para minha classe, que ela não era daquele jeito.

De qualquer maneira, "tia Anália" - como eu gostava de chamá-la - dizia que esse conto (que é a mesma coisa que história) foi inspirado em um parente dela que viveu, a muito tempo atrás, na Europa - acho que era por isso que ela me chamava de "bella nipote".

A história era assim: o parente da minha tia tinha uma filha e uma esposa que eram muito bonitas e viviam em um reino governado por um rei muito bondoso.


Quando a filha desse parente completou dois anos, a mãe dela acabou pegando uma grave doença e faleceu, o que o deixou muito triste. Contudo, com o passar dos anos, ele conseguiu superar aquela perda e criou a filha dele, que chamava-se Cinderela, sozinho até a menina completar doze anos de idade.

Nessa época o pai dela arranjou (ou seja, casou-se novamente) com outra mulher - que se chamava Addolorata. Com isso ela acabou ganhando três irmãs: Antonieta, Beviláqua e Giane - que minha tia disse serem muito feias, apesar de sempre estarem passando perfume e usando maquiagem.

Por um tempo, ou melhor, até Cinderela completar dezoito anos, os seis viveram "em paz" - entre aspas porque ela nunca tinha se dado muito bem com suas três irmãs, que sempre aprontavam brincadeiras de mau gosto com ela. Ao chegar nessa idade, ela teve que encarar mais uma perda: a do seu pai.

A partir dai a vida de Cinderela acabou virando um inferno: Antonieta, Beviláqua e Giane faziam o possível e o impossível para tirá-la do sério. Certa vez as três montaram uma armadilha com um balde d'água, em cima da porta, para quando sua irmã chegasse do trabalho - ah! Cinderela ajudava nas despesas de casa trabalhando em uma padaria próxima a sua casa - tomasse um baita banho gelado; mas, por sorte ou azar, quem acabou tomando o banho foi Addolorata, que deu uma bronca daquelas em suas três filhas ao descobrir o que elas tinham feito.

Para a felicidade de Cinderela, sua madrasta era imparcial (ou seja, ela não era má nem boa tanto com Cinderela quanto com suas três filhas). Sempre que acontecia alguma coisa de ruim, ela procurava saber o que tinha acontecido, o porquê e quem tinha feito aquilo.

Um dia o filho do rei decide fazer uma grande festa em seu castelo para ver se conseguia arranjar uma esposa; seu pai já estava com uma idade muito avançada e queria, antes de morrer, conhecer o seu netinho. O convite fora enviado a todas as casas que possuíam "belas damas" entre dezoito e vinte e cinco anos e realizar-se-ia na primeira noite de sábado do próximo mês.

Giane fora a primeira a ler o convite em sua casa. Por inveja, ela só o mostrara para suas duas irmãs, mandando-as dizer tanto a sua mãe quanto a "sua outra irmã" que o convite não havia chegado ainda.

E assim passaram-se os dias. Em seu serviço, sempre perguntavam para Cinderela se ela iria ao "grande baile" e ela sempre respondia que seu convite ainda não havia chegado.

Quando finalmente o primeiro sábado do próximo mês, que agora era o mês atual, chegou, Antonieta, Beviláqua e Giane arrumaram-se e foram ao baile. Quando questionadas por sua mãe, Beviláqua apenas respondera: "Ah! Desculpas! Nos esquecemos de avisar que o convite tinha chegado!"

Foi uma choradeira só... Cinderela estava completamente desconsolada...

- Calma, minha filha! Desculpas! Eu deveria saber que aquelas três estavam aprontando alguma coisa. - Diz Addolorata à entedeada (que, caso você precise procurar um dicionário, nada mais é que a filha que seu esposo ou esposa teve antes de se casar com você).

- Não! Você não tem culpa. - Responde Cinderela, em meio a soluços.

Nesse momento algo impressionante acontece. Uma forte luz entra pela janela do cômodo onde as duas estavam e dela surge uma mulher extremamente parecida com Cinderela.

- Filha! Sou eu, sua mãe. - Diz a mulher, em volto a luz.

- Mamãe? - Questiona-se a garota.

- Sim! Sou eu mesma. Vim trazer-lhe presentes: este vestido, esses sapatinhos e a carruagem que está lá fora; contudo, eles só serão visíveis neste mundo até à meia noite. Depois desaparecerão.

Quando deu por si, Cinderela estava magnífica vestida com um lindo vestido branco em tons prateados e um sapatinho de cristal.

Você deve estar se perguntando: "Mas e a madrasta dela, como ficou ao ver aquele fantasma?" Pois bem, ela simplesmente ficou imóvel, paralisada de medo. Antes de ir embora, a mãe de sua enteada agradeceu por sua imparcialidade, fazendo jorrar nela algumas lágrimas.

E dessa forma Cinderela foi ao "grande baile", causando verdadeira admiração no príncipe. Os dois dançaram e se divertiram até o relógio dar doze badaladas. Quando percebu que havia perdido o horário, a garota saiu correndo o mais rápido que podia, deixando um de seus sapatinhos nas escadarias do castelo.

Infelizmente, ao entrar em sua carruagem, quase tudo desaparecera, fazendo-a ter que andar até sua casa com o único sapatinho na mão.

Na manhã seguinte aconteceu um grande alvoroço no reino. Todos não paravam de falar na "linda mulher do príncipe" e de como ele estava atrás dela. Antonieta, Beviláqua e Giane sabiam quem era e moíam-se de ciúmes.

De casa em casa, o jovem príncipe ia com sua comitiva fazendo todas as damas que estavam presentes na noite anterior calçar aquele sapatinho, sem sucesso. Finalmente ele chega na casa de Cinderela, onde é recebido por Antonieta.

Uma por uma ele fez com que as irmãs calçassem o sapato, sem sucesso e, quando já ia embora, perguntou se mais alguém morava naquela casa. "Não!" Responderam as três, em coro. "Não mintam! Jovem senhor, ainda há minha enteada, que neste momento está na padaria, trabalhando". As caras de Antonieta, Beviláqua e Giane pareciam que iam explodir, de tão vermelhas que ficaram.

Ao chegar à padaria, o príncipe foi direto em Cinderela, que estava na recepção. Como mágica o sapatinho não só encaixou como simplesmente "desapareceu". Ele então mandou chamar a madrasta dela e suas irmãs, anunciando oficialmente a pretensão dele em se casar com ela - nem preciso dizer que as três nem queriam olhar para a cara da irmã, ou preciso?

- Cinderela, você aceita se casar comigo? - Pergunta o jovem príncipe.

- Aceito! - Responde ela.

E assim a família inteira - inclusive Antonieta, Beviláqua e Giane - viveram felizes para sempre.

Pouco tempo depois o pai do príncipe finalmente conhece seu netinho, aliás, seus netinhos: Cinderela dá à luz a um casal de gêmeos. Infelizmente, um ano depois ele parte deste mundo, transferindo o trono para seu filho, que agora era rei - e sua esposa, claro, rainha.

Nossa! Acho que me empolguei! Não imaginava que essa história era tão longo - e tão bela. Agora fiquei com sono, o que me faz lembrar de outra história verdadeira, mas isto fica para outro dia.

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Fonte das imagens:

http://disneycastbr.blogspot.com.br/2012_06_01_archive.html

http://despertardaluzinterior.blogspot.com.br/2011/06/uriel-17-de-junho-de-2011.html


4 comentários:

  1. Bastante interessante Lucas . Esta "rubrica" é de facto incrível pelo que tive oportunidade de ler . Espero que continue .

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  2. Muito legal... Adoro versões diferentes das histórias...

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